Biblioteca da Vivi: Conto de uma cachorra

A edição comemorativa dos 80 anos de "Vidas Secas" (1938), lançada pela Record, carrega na capa a figura mais emblemática do livro: a cadela Baleia. Ao acompanhar a saga de uma família de retirantes, cabe ao animal dar significado à trajetória dos personagens.

Em meio à seca, a falta de comida torna a falta de palavras menos importante. A comunicação entre os personagens é rasa por simples falta de vocabulário. Então, Graciliano Ramos (1892) confere ao animal a consciência que os demais não têm –humanizando-o enquanto animaliza os outros.

Os olhos de Baleia (como os da minha eterna Luna) parecem com os de gente e enchem seus companheiros de jornada de ternura. Foi a partir de um conto que leva o nome da cachorra que a história teve início.

Marco do romance regionalista brasileiro, o livro é narrado em terceira pessoa e mostra os desafios físicos e morais do pai de família Fabiano: analfabeto com mulher e filhos pelo semiárido em busca de vida melhor.

Esta edição especial do livro (R$ 69,90, 320 págs.) traz ilustrações e manuscritos. Publicado desde 1975, "Vidas Secas" já vendeu 1,8 milhão de exemplares. Livro fundamental. E pode ser encontrado mais barato, em edições mais simples, em livrarias e sebos.

Vivian Masutti, 33 anos, é jornalista formada pela Cásper Líbero e bacharel em letras (português e francês) pela Universidade de São Paulo, onde também cursou a Faculdade de Educação e obteve licenciatura plena em língua portuguesa. No Agora, é editora de Show! - vivian.masutti@grupofolha.com.br

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