Capa | Olá! | Zapping | Nas ruas | Grana | Trabalho | Dicas | Defesa do Cidadão | Editorial | Vencer | Show! | Brasil | Mundo | Máquina | Domingo é Show! |
Bom de Garfo: Bom demais da conta, sô!
Otavio Valle
do Agora
Juiz de Fora entrou no radar do noticiário nacional depois do incidente que envolveu o presidente eleito, Jair Bolsonaro (PSL), durante a campanha eleitoral. Mas a terra natal dos escritores Pedro Nava e Rubem Fonseca merece holofotes por motivos alegres como, por exemplo, sua tradição em botequins e a ótima gastronomia popular.
Graças aos 182 km de distância que separam a cidade do Rio de Janeiro, a cultura de botequins juiz-forana não apresenta apenas traços da mineirice, mas carrega uma forte influência da malemolência dos botecos cariocas.
Há anos frequento o município. Nunca abri mão de explorar as preciosidades da culinária mineira e curtir o jocoso clima entre clientes e donos de boteco.
Estive flanando por lá no último feriadão e achei justo compartilhar duas pérolas da região: o tradicionalíssimo "Bar do Abílio", e o jovem "Petisqueira". Duas casas simples, que mostram como é possível mesclar tradição e modernidade.
Em janeiro de 1969, o jovem Abílio Moreira abriu um botequim na estreita Fonseca Hermes, no centro de Juiz de Fora.
Com apenas 24 anos de idade, vindo da vizinha Piau, Abílio jamais imaginaria que seu estabelecimento se tornaria um verdadeiro patrimônio da cidade.
No bar, o velho piso de azulejo hidráulico é testemunha de gerações inteiras de clientes que passaram pela casa.
"Amigos se foram, mas hoje vêm aqui seus filhos, netos. É uma grande família", conta ele, com ar sereno.
O Bar do Abílio resiste no mesmo endereço há 50 anos. Na pequena rua, que abriga toda sorte de comércios, prédios no estilo art déco duelam contra o tempo e remontam os áureos tempos da indústria da tecelagem, que renderam a Juiz de Fora o apelido de "Manchester Mineira".
No alto de seus 73 anos, Abílio esbanja saúde. "Tô conservado porque gosto de tomar uma pinguinha. Por isso estou firme", diz com alegria. A filha Tânia ajuda no co-
mando da casa, mas quem pilota a cozinha é Abílio, que nunca larga o fogão. Todas as porções são feitas com muito esmero, como a clássica "Fígado com jiló" (R$ 16 meia/ R$ 25 inteira), que já rendeu prêmios à casa.
Em apenas cinco minutos, ele prepara o prato. Primeiro, dá uma fritada no fígado, que já está temperado. Reserva o danado. Em seguida, refoga o jiló, adiciona anéis de cebola, e logo acrescenta o fígado: mais um cliente feliz!
A 5 km de distância do centro, está a Petisqueira. Aberto apenas em fevereiro deste ano, o botequim é resultado do sonho do casal Walquíria Cruz e Roberto Freitas.
Ela é cozinheira há mais de 20 anos. Começou trabalhando em casa de família, ainda adolescente.
"No meu primeiro emprego, o patrão mandou eu preparar uma picanha, mas eu tirei toda a gordura da peça. Felizmente, ele não me demitiu, e me ensinou toda a base da cozinha", relata a chefe.
Walquíria se formou em gastronomia, trabalhou nos melhores restaurantes da cidade, e hoje é pós-graduada na área. Roberto é motorista, e assíduo frequentador de botecos ao fim do expediente. Conhecedor do talento da namorada, não titubeou em aceitar a parceria.
Em pouco minutos de conversa com Walquíria é possível perceber o quanto ela é apaixonada pela cozinha. Essa paixão fica mais evidente quando se come algum dos seus pratos.
Fiquei impressionado com seu bolinho de aipim com queijo canastra (R$ 28/10 unidades). A massa de mandioca é inigualável, uma das melhores que já comi na vida, e o tempero é exato. A porção é servida com um molho de melaço de cana, que harmoniza com o canastra.
O "jiló empanado" (R$18), obrigatório nos botequins de Juiz de Fora, é cortado em lâminas finas, muito crocante e bem servido. Não posso esquecer do disputado "chouriço" (R$25), que sai apenas no fim de semana.
Mas precisamos falar sobre torresmo. A iguaria é uma verdadeira instituição municipal. Todo o cuidado é pouco com o tema. Mas mesmo assim, não tenho medo em afirmar que o "torresmo da casa", produzido pela cozinha da Petisqueira, deve ser hoje um dos melhores da cidade. Walquíria mantém a tradição juiz-forana, com um tempero caseiro.
Cada toucinho é cuidadosamente cortado e frito. Sem carregação. A diferença não fica apenas no sabor, mas no acabamento do torresmo, na crocância perfeita da pururuca.
Um delicioso molho de jabuticaba acompanha a porção. Não bastasse essa maravilha culinária, a casa oferece o obsceno "rocambole de torresmo" (R$ 50).
É uma manta de toucinho, de corte selecionado, enrolada com queijo coalho, e frita. Você pode escolher mandioca frita ou cozida como guarnição. O resultado é arrebatador. A carne macia, quase desmanchando na boca, contrasta com a pururuca, que envolve o rocambole. Um sonho para os amantes da carne porco.
Só este prato justifica sozinho o perrengue das sete horas de viagem entre São Paulo e Juiz de Fora no busão. Por isso, me permito concluir o texto com um trocadilho daqueles: Juiz de Fora, tô dentro!
Bar do Abílio - R. Fonseca Hermes, 180, Juiz de Fora, MG, tel. (32) 3215-6216. De seg. a sex., das 10h às 23h; sáb., das 10h às 18h. Fecha aos domingos e feriados.
Petisqueira - Av. Eugênio do Nascimento, 475, Juiz de Fora, MG, tel. (32) 3029-1819. De seg. a sex., das 17h às 23h; sáb., das 11h às 23h; dom., das 10h às 18h. Fecha às terças.
Otavio Valle, 46 anos, é formado pela Unesp (Universidade Estadual Paulista) e pós-graduado em fotografia pelo Senac, mas a vida de jornalista o fez especialista em "botecologia", pela universidade "Bares da Vida".
Sugestões, críticas e dicas são bem-vindas. Mande e-mail para otavio.valle@grupofolha.com.br
Leia mais
Índice
22/12/2018
Ceias e costumes repetidos neste período têm origens diversas
(A)ventura na Cozinha: Suculência na ceia
Bom de Garfo: Amor nos tempos do fast-food
Colo de mãe: Presença, melhor presente
Biblioteca da Vivi: Presentear com livros
15/12/2018
(A)ventura na Cozinha: Arroz da virada
Papo de Teatro: Padroeira do Brasil
Biblioteca da Vivi: Amor às letras
Colo de mãe: A arte salva mães e filhos
Dá para enfeitar a casa para o Natal seguindo ideias simples
"A Fabulosa Charanga dos Excêntricos" tem palhaços que tocam ao vivo
Especialistas dão dicas a quem vai antecipar a ida às lojas
09/12/2018
Tratamentos paliativos aliviam dor de doentes terminais
Veja de que forma os signos influenciam como escolher suas roupas
(A)ventura na Cozinha: Tradição lusitana
Colo de mãe: Não basta ser mãe
08/12/2018
Bom de Garfo: Unidos pelo parmegiana
Era uma Vez uma Novela: Uma nova Perpétua
Biblioteca da Vivi: Universo do bem
02/12/2018
(A)ventura na Cozinha: Cheiro de Natal
Biblioteca da Vivi: Dose Barbara
Papo de Teatro: Parada de sucesso
25/11/2018
Banda Carisma faz baile em que toca sucessos
Anos 1990 são tema da próxima novela da Globo
(A)ventura na Cozinha: Pudim de mentirinha
Colo de mãe: Gerenciadora de crises
Era uma Vez uma Novela: Rei das novelas
Bom de Garfo: Bom demais da conta, sô!
Biblioteca da Vivi: Mil palavras
10/11/2018
Conheça os bastidores da mudança de visual de Deborah Secco
Palavra cruzada pode ajudar na manutenção da saúde mental
Conheça as apostas de moda da São Paulo Fashion Week
(A)ventura na Cozinha: Olha o peixe cru!
Biblioteca da Vivi: Conto de uma cachorra
Colo de mãe: Como escolher a melhor escola
Bom de Garfo: Clássico é clássico
04/11/2018
Veterinários não indicam água e sabão para felinos
Consumo exagerado de doces provoca cáries e diabetes
Pais e filhos frequentam a academia juntos
eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress (pesquisa@folhapress.com.br).