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Russomanno quer priorizar o atendimento primário
Adriana Ferraz
do Agora
Deputado federal, o jornalista Celso Russomanno (PP) disputa o governo pela primeira vez com a promessa de colocar os serviços públicos para funcionar, principalmente na área da saúde. Ele recebeu 573 mil votos nas últimas eleições.
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Agora - O senhor defende o programa Saúde da Família, que é municipal. Ao Estado compete o atendimento de especialidades. O senhor quer alterar essa regra?
Celso Russomanno - Não, mas quero fazer com que o programa Saúde da Família funcione e em parceria com os municípios. A Organização Mundial de Saúde deixou muito claro que para cada R$ 1 gasto com prevenção, nós economizamos R$ 3. Nós trabalhamos aqui com saúde emergencial, não preventiva. Os programas da Saúde da Família não funcionam.
Agora - Por que não funciona?
Russomanno - Porque os médicos são mal pagos. Em um debate, eu até mostrei o holerite de um médico. Ele ganha R$ 400 fixos mais as gratificações, que podem chegar a R$ 1.800. Com isso, não se consegue segurar um médico trabalhando duas horas em cada lugar. Conheço um médico que trabalha em Mairiporã, Guarulhos, Ribeirão Pires e em São Paulo. Ganha, em média, de R$ 2.000 a R$ 3.000 em cada lugar. Trabalha e ganha R$ 12 mil por mês. Somos nós que estamos pagando para ele andar de carro e ficar estressado no trânsito.
Agora - Como resolver isso?
Russomanno - Se a gente faz um concurso regional e dá um piso salarial de R$ 12 mil por mês, a gente segura o médico em um lugar só e ele não fica pulando como bolinha de pingue-pongue. Mas você já determina no edital do concurso que remoção só depois de dez anos. Aí, você cede esse médico para o município no convênio para o programa Saúde da Família, e não só ele, fisioterapeuta, enfermeiro, nutricionista, que devem visitar e tratar os pacientes crônicos. Vamos tratar a prevenção primeiro para descongestionar o sistema. A gente começa a tratar as pessoas e identifica fácil os pacientes crônicos, faz com que ele tenha um prontuário ambulante na mão dele, que é o que eu defendo e quero fazer. O que é? Um livro, onde está prescrito tudo o que ele passou e fez.
Agora - Esse histórico seria eletrônico?
Russomanno - Não só. Você pode fazer as duas coisas, aliás, deve porque os sistemas não se comunicam. Um livro mesmo, com a vida dele. A pessoa poderia ganhar isso quando nasce, e começa com as vacinas. No dia que você chega no médico, ele abre o livro e lê. Está tudo ali.
Agora - Aprimorando o Saúde da Família, o Estado poderá investir em complexidade?
Russomanno - Eu vou descongestionar o sistema. Aí, eu faço uma análise do que realmente precisa. O AME é muito bonito, maravilhoso, mas vê se você consegue chegar lá. Demora oito, dez meses. Você não consegue marcar um exame.
Agora - Qual será a primeira providência que o senhor tomará como governador para melhorar o programa?
Russomanno - A primeira providência será conveniar os municípios, fazer concurso e pagar piso salarial alto. Olha, eu não vou analisar a qualidade daquele programa que o Maluf criou, o PAS, não vou discutir se é bom ou não é. Só digo que não tinha fila porque o médico era bem pago e ficava lá para atender.
Agora - O senhor não quer voltar com o PAS?
Russomanno - Não quero voltar com nada. Acho que o serviço público tem que ser gerido por ele próprio. Sou contrário a esse tipo de coisa. O serviço público é ineficiente porque se paga mal.
Agora - De quanto será o aumento salarial do médico no seu governo?
Russomanno - O piso salarial de um médico deve ser de R$ 12 mil, no mínimo. Quem estuda mais, o médico ou o promotor de Justiça? O médico estuda mais, fica mais tempo na faculdade, tem que fazer residência ainda, é período integral. Curso de direito, que eu fiz, é meio período. Por que o promotor ganha R$ 18 mil e o médico ganha R$ 2.000?
Agora - O senhor acha possível oferecer esse salário a partir de que ano?
Russomanno - Assim que aprovarem a lei. E há condições. O Orçamento do Estado de São Paulo para o ano de 2010 é de R$ 125,7 bilhões. Sabe quanto gasta com saúde? R$ 11 bilhões. Não é 10%. A gente tá falando sério de saúde? O Alckmin diz que gasta 30% com educação. Gasta R$ 16 bilhões. Isso é 30%?
Agora - Há recursos para aumentar o salário dos médicos?
Russomanno - São Paulo contribui para o Pacto Federativo com R$ 200 bilhões. Isso é mandado para o governo federal e teria de voltar uma parte. Sabe quanto volta? 10%. Por que só isso? Porque o governo de São Paulo não conversa com o governo federal. E nós que pagamos a conta. Isso não existe. Terminou a eleição não importa quem esteja de que lado.
Agora - Então, é tudo uma questão de vontade política?
Russomanno - Sim, infelizmente. Eu sou jornalista, estou deputado há 16 anos. Todo mundo fala que sou um maluco. Tive 600 mil votos e estou me arriscando numa candidatura para governador. Quer saber? Se eu não for fazer alguma coisa com a caneta na mão, eu vou cuidar dos meus programas de televisão, da minha família e do Instituto Nacional do Consumidor, que já atendeu 250 mil pessoas de graça até hoje.
Agora - No seu plano de governo, o senhor diz que vai melhorar a infraestrutura dos hospitais públicos e, quando possível, terceirizar a administração para o setor privado. Hoje, quase metade dos hospitais já está nas mãos de OSs e o senhor considera isso ruim. Por que vai aumentar?
Russomanno - Os serviços públicos diretos são obrigação do Estado. Onde é possível [terceirizar]? Nos laboratórios? É. Por que o SUS gasta tanto dinheiro com laboratório próprio se tem uma rede imensa de laboratórios particulares que você pode fazer uma tabela, pagar e economizar dinheiro e as pessoas serem bem atendidas? Mas as organizações que cuidam desses locais devem ser fiscalizadas.
Agora - Em quanto tempo o senhor vai melhorar a saúde da rede estadual?
Russomanno - Preciso de seis meses para colocar as coisas em ordem.
Agora - Ele vai conseguir marcar uma consulta em um AME em quanto tempo?
Russomanno - Ele vai conseguir isso assim que eu consiga que o médico fique em um lugar só.
Agora - Qual a sua proposta para o tratamento do viciado em crack?
Russomanno - Tratamento adequado em fazendas, em sistema de internação, sem muros. Se o cara souber que ele está internado e preso, ele vai querer fugir. Se ele souber que está lá para se tratar, ele vai mudar de opinião.
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