02/07/2017

Quase 40

Cristiane Gercina
do Agora

No início deste ano, ao ler o livro "Trinta e Oito e Meio", da atriz e escritora Maria Ribeiro, fui tomada por períodos de reflexão. Estávamos de férias em Pernambuco, vivendo momentos necessários para repor as energias, mesmo no caos total do país e da minha vida, passando pelo pós-desemprego do meu companheiro. Descobri que, aos 37 e meio, bem próxima de fazer 38 anos, o que é um pulinho para os 40, era preciso repensar a vida, pois estava chegando à metade dela.

"Como eu quero viver os próximos 40 anos?", comecei a me questionar. Mas fatos da vida me fizeram entender que eu tenho que pensar um dia de cada vez. E hoje, perto das 40 anos, tudo o que eu quero é criar lembranças boas nas memórias das minhas filhas. É fazer casa na árvore, castelinhos na areia, ter bicho de estimação, fazer bolha de sabão no banho, bolo quente nas tardes de férias ou nas manhãs de aula. Dançar quadrilha, colocar fantasia, fazer festa de aniversário, permitir que soprem velinhas e que celebrem o passar dos anos.

Perto dos 40 anos, a única certeza que tenho é que iremos milhares de vezes a Porto de Galinhas, para que elas possam ver os peixinhos no mar transparente e quente. Iremos milhares de vezes ao Parque Buenos Aires para brincar no tanque de areia e alimentar os jacarés imaginários que elas encontram por lá.

Quero apenas que tenhamos a liberdade de sentir o sol batendo em nosso rosto, como ocorria quando eu levava a pequena Luiza para passear à tarde, em Araraquara, há dez anos. Quero que nossos refúgios de momentos juntas fiquem tatuados na memória delas. Como quando a Laura nasceu, há cinco anos, nas tardes em que ficávamos as três trancadas no quarto, como se nada mais importasse.

Perto dos 40 anos, eu também quero me aceitar mais, me ouvir mais, me amar mais e entender que essas coisas simples, que valem a pena, às quais a gente tem acesso de graça, somarão muito mais à existência de minhas filhas do que qualquer patrimônio financeiro.

Aos quase 40 eu só quero beijos furtivos, conversas agradáveis e abraços sem medida. Aos quase 40, eu quero entender que ser mãe não foi apenas uma escolha, foi o melhor caminho que eu pude trilhar na minha vida.

Aos quase 40 eu só quero dar um brinde à vida, à maternidade, ao jornalismo, aos amigos, à família e aos amores que me fazem tão feliz. Viva os meus 38 anos!

Cristiane Gercina, 37 anos, é mãe de Luiza, 10, e Laura, 4. Graduada e pós-graduada pela Unesp, é editora-assistente de Grana do Agora. É apaixonada pelas filhas e por literatura.

Quem quiser fazer sugestões, enviar ideias e dividir experiências pode mandar um e-mail para cristiane.gercina@grupofolha.com.br. Dúvidas e dicas também são bem-vindas.