Como seria a vida sem minhas filhas?

"Como seria a vida sem minhas filhas?", perguntei-me. E a resposta foi rápida. Com certeza, eu teria dormido até as 10h. Acordaria e tomaria um suco verde, pouco antes de ir para a academia. Depois, no almoço, tapioca com chia. Carinho no gato, passeio com o cachorro, água nas plantas, conversas amigáveis com o marido. Casa limpa, louça lavada, roupa em dia, dobrada e pronta para uso sem que eu precisasse revirar as gavetas e encontrar aquela blusa preta na toca da gata.

Pensei nas questões financeiras: viagens internacionais não faltariam. Aliás, naquele momento eu planejaria a próxima viagem ou a próxima ida a algum restaurante da moda. Tudo igualzinho ocorre com minhas amigas que não são mães.

Iria ao dentista, à manicure, ao ginecologista, ao shopping, ao almoço com as amigas, ao happy hour com os colegas de trabalho. Igual as amigas não mães.

Certeza que eu teria muito mais tempo para mim –e dinheiro também. Ninguém me olharia com aquele olhar de pena quando eu chego em um local descabelada e com as olheiras no meio do rosto.

A única coisa chata nisso tudo é que eu não teria que responder perguntas sobre corações de minhocas. E não teria beijos babados e abraços bem apertados ao acordar, principalmente quando a mais velha sonha que a mãe morre e, ao me ver, dá aquele suspiro de amor e diz: "Ainda bem que você está viva, mãe".

Ainda bem que eu estou viva, querida! E que vocês estão aqui. Ainda bem que eu tenho quilos a mais, viagens a menos e marcas de duas cesarianas. E, por fim, ainda bem que sei que a minhoca pode ter de dois a 15 pares de corações. Assim como as mães, para enchê-los de amor.

Cristiane Gercina, 37 anos, é mãe de Luiza, 10, e Laura, 4. Graduada e pós-graduada pela Unesp, é editora-assistente de Grana do Agora. É apaixonada pelas filhas e por literatura.

Quem quiser fazer sugestões, enviar ideias e dividir experiências pode mandar um e-mail para cristiane.gercina@grupofolha.com.br. Dúvidas e dicas também são bem-vindas.