24/07/2016

Inspirações do mestre

Vivian Masutti
do Agora

Eu confesso que cheirei, cheirei mesmo os livros da Coleção Hitchcock, lançamento da editora Vestígio, assim que coloquei as minhas mãos neles.

A beleza da capa dura e o bom acabamento das edições ajudam a atrair o leitor. Mas o cheiro de folhear um livro novo é mesmo incomparável.

Essa mistura de sentidos, o tato, o olfato, a visão, antecipa muito da sensação de vertigem que tive ao ler "Vertigo" (R$ 44,90, 192 págs.), o livro que inspirou o cineasta britânico Alfred Hitchcock (1899-1980), conhecido como o mestre dos filmes de suspense, a filmar o clássico "Um Corpo que Cai" (1958).

Escrito pela dupla de franceses Pierre Boileau e Thomas Narcejac, especialmente para Hitchcock, "Vertigo" se passa em Paris, na Segunda Guerra.

O limite entre a razão e a loucura é tênue, enquanto o protagonista, o detetive Flavières, passa a seguir a jovem Madeleine, a pedido de seu marido. E o leitor se sente sem chão.

Já "A Dama Oculta" (R$ 44,90, 272 págs.), da britânica Ethel Lina White, cria uma atmosfera perturbadora quando a bela e jovem Iris Carr enfrenta sua própria sanidade ao procurar desesperadamente uma companheira de viagem que ninguém mais se lembra de ter visto.

Livro faz crítica social da fome

"A Fome" (R$ 69,90, 714 págs., Bertrand Brasil) é um livro essencial para qualquer um que queira compreender um pouco da própria essência como ser humano.

Para escrevê-lo, o argentino Martín Caparrós, autor de outros 30 livros, percorreu o mundo para observar o cotidiano dos habitantes mais carentes dos países mais pobres do planeta, incluindo Índia, Bangladesh, Níger, Quênia, Sudão e Madagascar.

Entrou em cabanas cheias de detritos e moscas, viu crianças esqueléticas pendendo nos seios murchos das mães, enquanto outras, caídas no chão, não tinham mais forças para se levantar.

A forma como Caparrós descreve o que viu é visceral. E a pesquisa que fez explicita os mecanismos sociais e econômicos que permitem a miséria, tornando o livro uma verdadeira crítica à história da fome.

Agora, você que colocou os olhos nesta coluna por meio minuto, ao menos sabe que, nesse período de tempo, morreram de fome entre oito e dez pessoas no mundo.

Vivian Masutti, 30 anos, é jornalista formada pela Cásper Líbero e bacharel em letras (português e francês) pela Universidade de São Paulo, onde também cursou a Faculdade de Educação e obteve licenciatura plena em língua portuguesa. No Agora, é editora-assistente do caderno "Show!" - vivian.masutti@grupofolha.com.br