Colo de mãe: laços que ficam

Luiza e Laura já perderam alguns periquitos. E essa foi a experiência mais próxima de morte para elas, até que 2017 chegou. Alguns acontecimentos com pessoas próximas levaram minhas pequenas a ouvir sobre morte e ver a mamãe chorar por meses a fio. Primeiro, a morte do pai de uma amiga querida, a quem elas chamam de tia, tocou o coração das duas. Tocou ao ponto de Luiza chegar a me dar lições de cuidados com minha amiga: "Não fale sobre morte com ela, mamãe; não leia poemas tristes para ela", disse, certa vez, minha mais velha.

Depois, um amigo especial e consultor do IR, Sebastião Luiz Gonçalves dos Santos, nos deixou, fazendo despertar em mim, novamente, a dor da perda.

Em meio às lágrimas e às explicações sobre a morte, as duas entenderam que, nesses momentos, eu não sou apenas a mãe da Laura e da Luiza. Sou um ser humano que sofre e que tenta ressignificar a existência a cada momento de dor.

O medo da morte, no entanto, rondou a casa e, em certa manhã de outubro, começaram as perguntas: "Mamãe, você vai morrer?", disse Laura. "Sim, meu bem, mas vai demorar", respondi. E Luiza veio com a explicação: "Laura, as pessoas morrem. Os bichos morrem. A mamãe vai morrer quando estiver velhinha.

Laura, não contente, me pediu: "Não morre logo, não, mamãe. Você vai precisar pentear o cabelo das minhas filhas; eu não sei fazer penteados".

Mais uma vez, Luiza, do alto da sabedoria de quem tem apenas dez anos e já aprendendo que a vida é um laço forte e apertado dentro do peito, disse para a irmã: "A mamãe vai nos ensinar a fazer penteados e nós vamos treinar nas bonecas. Quando a gente crescer, a gente vai saber cuidar das nossas filhas como a mamãe cuida da gente".

Essa é a lição. O dia em que eu for, o que ficará são os laços que criamos e a herança de afeto que deixei.

Cristiane Gercina, 38 anos, é mãe de Luiza, 10, e Laura, 5. Graduada e pós-graduada pela Unesp, é editora-assistente de Grana do Agora. É apaixonada pelas filhas e por literatura.

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