24/09/2017

Pai e mãe, ouro de mina

Cristiane Gercina
do Agora

Três semanas sem carro. Idas e vindas ao mecânico e eu, muitas vezes, na rua. Ainda bem que, todas as vezes, o carro quebrou quando eu estava sozinha, ou seja, as meninas não precisaram passar por nenhum transtorno.

Não pensem que eu sou totalmente apegada ao carro. Não, não. Adoro meios alternativos, como a bicicleta e a delícia do transporte público -fora dos horários de pico, é claro. E como é bom andar a pé! Mas quem tem filhos depende de carro. E pensa no quão caótica minha vida ficou após o veículo, que me acompanha há cerca de sete anos, resolver pifar.

Deixei de levar a Laura ao pediatra, a Luiza não foi à dentista. Elas perderam aulas de balé. Ir ao supermercado parecia uma missão impossível e levá-las à escola era motivo de atrasos constantes.

Nessa correria nem me dei conta de coisas que eu fazia instantaneamente. E não, não estou falando de hábitos que, depois do carro quebrado, eu resolvi mudar. Estou falando de como, instantaneamente, toda vez que o carro quebrava, era para meu pai que eu ligava. E, depois, para minha mãe. Ou tudo ao contrário. Primeiro para a mãe, depois para o pai.

Ligava para reclamar, para xingar, para chorar, mas, na realidade, eu estava em busca de ajuda para resolver os problemas. Como filha que sou. Essa condição que a gente nunca abandona.

E foram eles que me ajudaram em tudo. Corre meu pai para me socorrer no mecânico, vai minha mãe ficar em casa com a Laura doente.

Vem meu pai para irmos ao supermercado fazer compras. E levar as meninas ao balé. Vem minha mãe para me ajudar também nas compras e no preparo da comida e na organização da casa e no rumo dos meus dias.

Eu morei muitos anos longe. Foram 14 anos, para ser mais exata. E depois que eu tive a minha primeira filha, no interior do Estado de São Paulo, a coisa que eu mais queria na vida era que ela pudesse conviver com os avós, já que não tínhamos nenhum familiar conosco em Araraquara.

Hoje, convivo com meus pais praticamente todos os dias, e é claro que a gente discute, discorda e se estranha. É claro que tem sempre aqueles momentos em que eles querem que eu seja apenas filha, e não a mulher que me tornei, dona de mim. Mas o mais bonito é quando eu realmente quero ser apenas filha e sei que ainda posso contar com eles. Esse é o meu melhor presente. Não há nada na vida que pague esse convívio.

Sei também que será importante para minhas meninas. Mesmo que eu fique brava quando vejo que minha mãe e meu pai estão cometendo os mesmos erros que cometeram comigo, o amor que os dois têm pelas minhas pequenas é sem tamanho e compensa tudo.

As letras do Djavan podem não fazer sentido, mas que pai e mãe são ouro de mina, pelo menos na minha vida, são.

Cristiane Gercina, 38 anos, é mãe de Luiza, 10, e Laura, 5. Graduada e pós-graduada pela Unesp, é editora-assistente de Grana do Agora. É apaixonada pelas filhas e por literatura.

Quer ver o desenho do seu filho publicado na coluna? Envie-o para o e-mail colodemae@grupofolha.com.br com nome completo e idade da criança, nome do responsável e celular do responsável.

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