22/10/2017

A chegada de Violeta e Luna

Cristiane Gercina
do Agora

Minhas filhas ganharam bonecas gêmeas no Dia da Criança; que custaram pouco e se tornaram nossas companheiras de todo dia

O Dia da Criança poderia ter sido muito depressivo lá em casa, dado o fato de que o capitalismo nos venceu. Sem grana para comprar todos os presentes que Luiza, dez anos, e principalmente Laura, cinco anos, me pediram após o bombardeio de comercias na TV a cabo, começamos o dia sem nenhum presente para elas.

Eu já havia avisado que não havia dinheiro e que elas ganhariam a presença da mamãe e do papai. Claro que curtiram muito a minha folga. Foi o momento em que conseguimos levar o pai à exposição do Castelo Rá-Tim-Bum. Nós três já havíamos ido de dia, em outra data, e combinamos de levar o pai à noite, para vermos todas as versões do castelo.

Mesmo sabendo que não ganhariam nada, rolou uma depressão vendo tantas crianças sendo presenteadas. Boba que sou, fui até uma loja perto da casa da minha mãe e, com R$ 60, trouxe as gêmeas.

Violeta e Luna chegaram lá em casa para ressignificar. Mostrar que o que vale não é o preço que se paga, mas o valor que se dá a tudo. Bem clichê, mas coisas que crianças precisam aprender.

Do mesmo jeito que eu dei presença e atenção a elas, as minha duas menininhas aprenderam que devem dar presença e atenção para as "filhas postiças".

E lá fomos nós, com Violeta e Luna para todos os lugares. Na exposição do Castelo Rá-Tim-Bum, no ensaio do balé, na igreja, na coroação de Nossa Senhora Aparecida, no banho, na farmácia, no supermercado, na cozinha, na sala e, claro e principalmente, na hora de dormir.

Ao fim do feriado prolongado –o segundo e último que terei neste ano; depois, só no Ano-Novo–, Laura teve febre e fomos ao hospital. E lá estava eu, com a filha e a filha da filha. Carregando bolsa, criança doente, documentos e uma boneca. Muitos foram os olhares tortos quando eu tentava me equilibrar e quase caía.

Eu não liguei. Eu não ligo. Há tempos me acostumei com os olhares julgadores.

O que importa é o que vai ficar na minha memória e na memória da minha caçula, que é o quanto um abraço conforta e quanto os braços de uma mãe são gigantes. Segurei as duas em meu colo enquanto pude, numa tentativa de segurar o tempo que voa e garantir carinho enquanto ainda consigo ser presente.

Cristiane Gercina, 38 anos, é mãe de Luiza, 10, e Laura, 5. Graduada e pós-graduada pela Unesp, é editora-assistente de Grana do Agora. É apaixonada pelas filhas e por literatura.

Quer ver o desenho do seu filho publicado na coluna? Envie-o para o e-mail colodemae@grupofolha.com.br com nome completo e idade da criança, nome do responsável e celular do responsável.