10/09/2017

A Rosa que há em mim

Cristiane Gercina
do Agora

O filme "Como Nossos Pais", de Laís Bodanzky, ainda ecoa em mim, mesmo duas semanas após lhe assistir. Devo vê-lo pela segunda vez, o que ainda não fiz até o momento em que escrevo esta coluna.

Embora muitas vezes eu queira não ser a Rosa, ela ecoa em mim a cada minuto.

Ecoa nas mínimas coisas, não na grandiosidade do caos que vira a vida da personagem após uma notícia bombástica dada por sua mãe. Também não na relação conflituosa entre mãe e filha. Tenho os conflitos com minha mãe, mas sou muito mais dócil e grata pela sua presença do que a personagem Rosa é.

O fato é que a Rosa ecoa em mim diariamente na constatação de que, embora a maternidade nos traga tantas coisas lindas –e eu amo ser mãe–, ela nos tira algum convívio conosco e com os outros. E é preciso ser forte.

Por mais que não queiramos, por mais nãos que dizemos para as cobranças que nos fazem, a maternidade exige. E é preciso ser forte.

Eu tenho duas filhas pequenas, uma de dez anos e uma de cinco anos, que precisam de mim. E não há como fugir disso.

Por mais independência que eu as ajude a ter, elas precisam da minha dedicação, do meu tempo, da minha vida. Precisam de mim como seres em formação.

Precisam para ir de um lado a outro quando as distâncias são grandes, para orientá-las, para dar a mão nos momentos difíceis e para compartilhar felicidades.

Foi uma escolha. Eu sempre quis ser mãe. Mas o maior fato que ninguém realmente lhe conta sobre a maternidade é o quanto de você mesma vai ficando para trás. Para torná-la outra.

E isso não significa dizer que eu não amo minhas filhas. Isso não significa dizer que não sou feliz com a decisão de ser mãe. Muito pelo contrário. Isso mostra apenas que a experiência é transformadora e está me transformando.

Aqui está tocando "Todo Sentimento", de Chico Buarque, e talvez seja eu cantando para mim mesma sobre esse "tempo da delicadeza". Porque acho que eu espero um reencontro comigo daqui a um tempo. Não com a Cris que fui, mas com a mãe que há em mim e com a filha que habita aqui, celebrando o caminho que escolhi, o que ficou para trás, a criação das minhas filhas, meus erros e meus acertos. Porque nada será em vão.

Dica de leitura

O livro"50 Brasileiras Incríveis para Conhecer Antes de Crescer"(R$ 79,90, 120 pág., Galera/Record) conta a vida de mulheres como Chica da Silva (1732-1796) e Elis Regina (1945-1982). Essencial para quem tem crianças, principalmente meninas. Será lançado em outubro.

Cristiane Gercina, 38 anos, é mãe de Luiza, 10, e Laura, 5. Graduada e pós-graduada pela Unesp, é editora-assistente de Grana do Agora. É apaixonada pelas filhas e por literatura.

Quer ver o desenho do seu filho publicado na coluna? Envie-o para o e-mail colodemae@grupofolha.com.br com nome completo e idade da criança, nome do responsável e celular do responsável.

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