03/09/2017

Como nossas mães

Cristiane Gercina
do Agora

O filme "Como Nossos Pais", que estreou na última quinta, traz à tona dilemas da mulher moderna e a relação entre mãe e filha

Rosa tem 38 anos e duas filhas. Rosa almoça aos domingos com a mãe e toda a família. Rosa leva as filhas na escola. E busca. Rosa trabalha. Rosa é casada com Dado. Rosa cuida da casa, da mãe, das filhas, do marido e do pai.

Rosa esquece de si, na correria do dia a dia, mas a vida a faz lembrar de seus sentimentos. Rosa pega trânsito e se engana com os projetos no trabalho. Rosa se apaixona e se decepciona. Rosa questiona a vida, a existência e se está realmente no caminho que a faz feliz.

Rosa sou eu, Rosa é você em um retrato do cotidiano de cada uma de nós, feito de forma genial no filme "Como Nossos Pais", de Laís Bodansky, que estreou no circuito de cinemas do país na quinta.

Eu assisti ao filme um pouco antes, em uma sessão reservada para jornalistas, e chorei reservadamente. Chorei um choro de mãe, de mulher, de profissional. Chorei com uma Rosa atarefada, mas que é forte e decidida. Como eu, como você, como nossas mães. Chorei porque, quando a gente fala da Rosa, das dores da Rosa, das felicidades da Rosa, do amor que ela tem pelas filhas, estamos falando de mim e de você. E o cinema falando da gente é o maior presente que 2017 poderia nos dar.

Depois da sessão e de um bate-papo com elenco, diretora e produtores, não houve um dia sequer desta última semana em que eu tenha conseguido deixar de pensar na Rosa, em mim, nas minhas amigas e em tantas mulheres.

Pensei muito em minha mãe, nas minhas avós e em quanto reproduzimos os comportamentos que nossas mães aprenderam com as mães delas.

Pensei que há coisas que precisamos mudar e há outras para celebrar. Há coisas que eu queria fazer diferente, mas há outras que eu adoro fazer igualzinho.

E nessa revolução interna que tenho feito, que é necessária e que ninguém fará por mim, os questionamentos são grandes. Penso em como quero criar minhas filhas e no legado que quero deixar para elas. E, no fim, penso que eu, como todo ser humano, só quero ser feliz.

Na última semana, reproduzi um padrão de comportamento de minha mãe e cozinhei para amigos queridos, para minha família e para mim. Naquele momento, eu me senti mais Rosa do que nunca. Numa genuinidade tão humana e tão forte. Senti-me mãe e senti-me filha.

Naquele momento eu defini o que quero de minha mãe em mim e o que não quero passar adiante para minhas filhas. Naquele momento eu decidi que talvez vá mais ao cinema com minha mãe e ande mais de bicicleta com minhas filhas.

Cristiane Gercina, 38 anos, é mãe de Luiza, 10, e Laura, 5. Graduada e pós-graduada pela Unesp, é editora-assistente de Grana do Agora. É apaixonada pelas filhas e por literatura.

Quer ver o desenho do seu filho publicado na coluna? Envie-o para o e-mail colodemae@grupofolha.com.br com nome completo e idade da criança, nome do responsável e celular do responsável.

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