Seguranças expulsam os mendigos do Minhocão
Bruno Ribeiro e Adriana Ferraz
do Agora
Os moradores de rua que há anos dormiam sob o elevado Costa e Silva, o Minhocão, na rua Amaral Gurgel, em Santa Cecília (centro de SP), foram expulsos por seguranças particulares há cerca de dois meses. Desde então, estão impedidos de voltar à "casa" deles.
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Dois seguranças por turno, armados com cassetetes, não permitem que os moradores de rua deitem na calçada central em troca de R$ 50 mensais de cada comerciante.
Cansados de esperar por alguma iniciativa do poder público, lojistas e moradores da própria rua resolveram recorrer aos vigias particulares.
Sem dar o nome completo, dois desses vigilantes (um do turno da manhã e outro do turno da noite) disseram que utilizam os cassetetes para intimidar os sem-teto. "A prefeitura passa aqui e joga água para limpar a calçada [central]. Eles [moradores de rua] saem. Aí a gente vai para lá e não deixa eles voltarem", disse um deles. "Eu uso isso aqui [batendo com a mão no cassetete, que estava preso na cintura]", afirmou o outro.
Entretanto, não foi preciso usar muita violência para tirar os moradores, segundo os próprios sem-teto. Um grupo deles atravessou a rua e, agora, passa o dia na lateral do terminal Amaral Gurgel de ônibus. Alguns deles já estavam havia 30 anos vivendo sob o Minhocão.
A decisão de contratar os seguranças partiu da Ação Local Amaral Gurgel. O grupo não é uma entidade constituída, mas sim uma união informal de moradores e comerciantes formada a partir de incentivos da ONG (Organização Não Governamental) Viva o Centro, que estimula o surgimento de iniciativas para a melhoria da área central.
A associação, que reúne representantes de toda a sociedade paulistana em seu conselho (bancos, advogados, engenheiros e entidades de classe), atribuiu a responsabilidade pela medida exclusivamente à Ação Local Amaral Gurgel. De acordo com a ONG, há 51 dessas ações, e a ideia é mobilizar a sociedade local para identificar problemas e indicar soluções para o bairro.
O comerciante José Pedro Bonfim, membro da Ação Local Amaral Gurgel, diz que foi ele quem chamou os seguranças e os apresentou aos comerciantes, que fizeram contrato diretamente com os vigias. Ele chama os guardas particulares de "zeladores de rua" --nome dado pela Viva o Centro para um dos nove grupos de estudo que dão suporte para cada ação local.
Existem 16 mil sem-teto na cidade, segundo a prefeitura. Há 8.000 vagas em albergues. O resto não tem para onde ir.
Já a Secretaria de Assistência Social da gestão Gilberto Kassab (DEM), chefiada pela vice-prefeita Alda Marco Antonio (PMDB), diz que o caso é uma questão de "segurança pública" e não anunciou nenhuma medida.
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