Traficantes do Alemão começam a se render

RIO -- Com o complexo do Alemão cercado por 800 soldados do Exército, blindados da Marinha e centenas de policiais civis e militares, cerca de 600 traficantes encurralados passaram a tarde de ontem negociando uma saída. Até a conclusão desta edição, alguns já haviam se entregado, como Diego Raimundo da Silva, braço direito de Luciano Pezão, chefe do tráfico no complexo.

"Parte deles quer se entregar, mas muitos não", disse o mediador de conflitos e coordenador do AfroReggae, José Júnior, chamado pelos traficantes para negociar. "Ninguém falou que quer ir para o enfrentamento."

O AfroReggae é uma ONG que emprega ex-traficantes e ex-presidiários e atua em favelas do Rio para tentar minimizar os efeitos dos confrontos.

Durante todo o dia, o clima foi de muita tensão. A fuga de traficantes só cessava quando começavam os tiroteios. Às 22h, balas traçantes, que deixam um rastro de luz, ainda cruzavam o céu.

Apesar da movimentação, da distribuição de óculos de visão noturna para alguns policiais e de declarações do porta-voz da PM, coronel Lima Castro, de que a invasão poderia ocorrer a qualquer momento, o comandante do Batalhão de Choque, coronel Valdir Soares, afirmava que uma operação só seria feita à luz do dia. Até a conclusão desta edição, à meia noite, não havia ocorrido invasão no local, mas doze tanques estavam de prontidão.

Rendição

De manhã, o comandante da PM, coronel Mário Sérgio Duarte, havia pedido que os bandidos se entregassem, com as armas sobre as cabeças. "Não vamos recuar, estamos chegando nos momentos finais para a retomada do Alemão. Temos toda a superioridade neste momento."

Suspeitos tentaram escapar ao cerco misturando-se aos moradores --31 foram levados para averiguação, mas só dois ficaram presos. Ao longo do dia, houve apreensões de armas, munição e drogas. Numa delas, na Vila Cruzeiro, a Polícia Civil encontrou 132 bananas de dinamite, um circuito de câmeras de segurança que vigiava as entradas da favela e dez picapes novas.

Em outros locais foram encontrados seis fuzis, 900 kg de maconha, munição e fardas semelhantes às do Bope (Batalhão de Operações Especiais da Polícia Militar).

No restante da região metropolitana, o dia foi um pouco menos tenso. Quatro carros foram incendiados na Baixada Fluminense.

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