15/07/2018

Nós e os livros

Cristiane Gercina
do Agora

Momentos em família vão permear as lembranças das minhas filhas e, com certeza, os livros que fazem parte desses encontros também

Os livros estão presentes em nossa casa desde sempre, desde antes de nossas filhas nascerem. Para mim e Renê Gardim, pai de Luiza, 11 anos, Laura, seis, Vitória, 26, e Eleonora, 20, livro e comida têm basicamente a mesma importância. Ensiná-las a escolher os melhores alimentos e a ler coisas boas está entre o que consideramos primordial na educação delas.

Não dá para saber ao certo se serão leitoras vorazes, como Renê é, ou se serão apegadas aos livros como eu, que curo as dores da alma com poesia, não passo um dia sem uma boa leitura e acredito ter obtido sucesso na saúde e na criação das meninas por ler os livros certos.

Não sei dizer se elas serão grandes leitoras, mas as vejo apaixonadas por livros, como eu e o pai. Cada uma tem suas leituras prediletas. E mesmo com dificuldade para entenderem algumas palavras, eu noto o prazer que têm ao pegar um livro.

Quando Laura era menor, Luiza lia para ela antes de dormir, fazendo o meu papel nas noites em que eu trabalhava. Hoje, com a caçula já avançando no mundo da leitura, ela e minha primogênita dividem a apreciação de um mesmo livro.

E eu não vi cena mais linda nos últimos meses do que as minhas filhas juntas, lendo, sentadas em um colchonete de uma livraria da cidade. Ir a essa livraria é um dos passeios preferidos das meninas. É uma escolha quase tão apaixonante quanto ir ao parque de areia ou à praia de Boa Viagem, em Recife (PE), nas férias.

No último feriado, na segunda-feira, 9 de julho, em um raro dia de folga para mim, fomos todos a essa livraria, em um passeio em família, como elas amam. E lá, observando minhas filhas, pensei na herança que quero deixar. Pensei que, quando eu não estiver mais aqui, ou quando elas se lembrarem de momentos da infância nas histórias que contarão para as amigas e para os namorados –ou namoradas–, minhas meninas vão recordar com muito amor do tempo que passavam comigo e com o pai na livraria.

Irão se lembrar dos muitos livros que escolhiam, de como era gostoso se sentar naquele colchonete, dos amigos que já fizeram por lá, do quanto corriam sobre o carpete do local e de como gostavam de sentar à mesa do café, com um monte de livros na mão, folheando cada um deles. Terão na memória o dia em que brincaram de esconde-esconde e fizeram uma amiga. E de quando foram comigo prestigiar a escritora Maria Ribeiro.

Certa vez, eu e Renê ficamos chateados com um episódio envolvendo ódio político que ocorreu na livraria. Chegamos a pensar em não ir mais lá. Mas os livros são maiores do que qualquer disputa, e os momentos em família também. Tenho certeza de que minhas meninas vão valorizar essa herança que deixaremos.

Cristiane Gercina, 38 anos, é mãe de Luiza, 11, e Laura, 5. Graduada e pós-graduada pela Unesp, é editora-assistente de Grana do Agora. É apaixonada pelas filhas e por literatura.

Quer ver o desenho do seu filho publicado na coluna? Envie-o para o e-mail colodemae@grupofolha.com.br com nome completo e idade da criança, nome do responsável e celular do responsável.