17/06/2018

Uma mãe, duas filhas

Cristiane Gercina
do Agora

Não planejei ser uma para duas, mas é o que somos hoje: uma mãe e duas filhas que fazem muita coisa juntas; sentirei falta deste tempo

Eu não planejei ter duas filhas. Na realidade, sempre as quis, mas não as planejei. Há 11 anos, quando dei à luz Luiza, minha decisão era clara: não teria mais filhos. Luiza já tinha duas irmãs por parte de pai e isso bastava. Não seria sozinha no mundo. Quatro anos depois, mudamos de Araraquara, no interior do estado, para São Paulo, e não ter mais filhos era uma certeza.

Qual não foi minha supressa quando me vi grávida de Laura? Recém-contratada, tinha certeza de que perderia o emprego após a volta da licença-maternidade. Luiza tinha cinco anos e meio, e embora a casa em que morávamos (e moramos até hoje) fosse grande, eu sabia que ter outro filho nesta selva de pedras seria o fim. Como casal, eu e Renê já planejávamos que poderíamos, muito em breve, sair para curtir a noite e viajar sozinhos. Grande engano.

O fato é que Laura chegou, gorducha, linda, dorminhoca e comilona. Cheia de saúde. Um presente. Hoje, revendo as fotos do parto e do momento em que ela e Luiza se conheceram –elas adoram que eu conte essa história– não imagino minha vida sem as duas. Sim, uma mãe para duas filhas. Elas falam ao mesmo tempo. Querem atenção. Querem saber quem é mais amada, quem é mais linda, mais inteligente. Qual barriga ficou maior. Quem mamava mais.

E o que eu digo a elas? Digo que sou só uma mãe. Uma mãe que tem duas filhas lindas, saudáveis e muito inteligentes. Claro que também faço piadas. Digo que tenho dois ouvidos para que falem ao mesmo tempo. E assim levamos nossos dias. Com elas sorrindo, chorando, brigando, reclamando e se amando com a mesma intensidade.

Na hora das refeições é que sinto o quanto ter duas faz tudo ser diferente. Uma do lado da outra, brincando, conversando, dividindo a comida, dividindo a atenção dos pais, dividindo a vida. Tenho vontade de fotografar esse momento a cada mês para ver o quanto foram crescendo com o passar do tempo.

E quando as vejo assim, tão cúmplices, tenho certeza de que, quando criarem asas e saírem de casa, será disso eu que vou sentir mais falta: desse dia a dia insano, em que somos uma mãe e duas filhas. No caminho da escola, no supermercado, nas idas ao balé, na lição de casa. Uma mãe e duas filhas. No choro de mãos dadas no quarto delas à noite, ao dançarmos e tomarmos banho juntas. Somos uma mãe e duas filhas. Duas filhas que vão crescer, uma mãe que está envelhecendo. Um tempo que está passando, mas com um laço apertado no peito de cada uma delas.

Cristiane Gercina, 38 anos, é mãe de Luiza, 10, e Laura, 5. Graduada e pós-graduada pela Unesp, é editora-assistente de Grana do Agora. É apaixonada pelas filhas e por literatura.

Quer ver o desenho do seu filho publicado na coluna? Envie-o para o e-mail colodemae@grupofolha.com.br com nome completo e idade da criança, nome do responsável e celular do responsável.