Mãe e culpa

Quem nunca se sentiu culpada que atire a primeira pedra; há momentos em que eu sinto culpa por cada decisão tomada na vida

Há quem diga que, quando nasce uma mãe, nasce a culpa. Para mim, a culpa já veio na gestação. A gente descobre que está grávida e, quando vê, está chorando porque tomou uma aspirina, não sabia do bebê na barriga e não tem certeza se podia ter tomado. E haja coração apertado com medo do simples comprimido!

Há quem consiga não se sentir responsável por nada ligado aos filhos, mas não é o caso da maioria. Eu, por exemplo, tenho tentado lidar com isso. Afinal, sou mãe há 11 anos e estou na segunda filha. Não é fácil, confesso. Há casos em que obtenho sucesso. Mas, em tantos outros, ainda sou uma pobre mãe culpada.

Na última semana, a culpa bateu no teto. Minha filha mais velha faz balé clássico desde os três anos. Sempre aos trancos e barrancos, sempre dentro de nossas possibilidades e no tempo que disponho nesta selva de pedra.

Eis que, neste ano, com tamanha correria, mudanças profissionais, falta de grana e novos horários na vida dela, que começou a estudar de manhã, mantê-la no balé estava ficando impossível. Conversamos, e ela decidiu que vai parar. Doeu. Não por ela, confesso, mas por mim.

Luiza ficou bem e tomou a decisão depois de muito pensar. Eu é que ainda não consegui me perdoar porque não tenho tempo, dinheiro e disposição para levá-la às aulas. Enfrento uma anemia há meses, estou investigando a causa de alguns tumores e deverei fazer uma cirurgia em breve. Trabalho em um horário completamente diferente dos demais mortais e, sim, minha conta bancária está mais vazia do que muitas panelas brasileiras.

Estou tentando lidar com essa culpa, que me oprime, mas tanto me ensina. Nessa jornada materna, aprendi que, mesmo me sentindo culpada, devo seguir em frente. Tenho que olhar para minhas filhas com a certeza de que posso errar, mas as amo. E tudo bem errar. E tudo bem ter que decidir tudo de novo.

Cristiane Gercina, 38 anos, é mãe de Luiza, 10, e Laura, 5. Graduada e pós-graduada pela Unesp, é editora-assistente de Grana do Agora. É apaixonada pelas filhas e por literatura.

Quer ver o desenho do seu filho publicado na coluna? Envie-o para o e-mail colodemae@grupofolha.com.br com nome completo e idade da criança, nome do responsável e celular do responsável.

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