06/09/2015

Gratidão

Vivian Masutti
do Agora

O título acima representa o meu (e de muitos leitores) principal sentimento em relação ao neurocientista britânico Oliver Sacks, que morreu no último dia 30, aos 82 anos, de câncer no fígado.

Professor de psiquiatria da Universidade de Columbia, Sacks ficou conhecido como o "poeta da neurociência", pelo dom que tinha de tratar com abordagem acessível e linguagem literária os mistérios da mente e do corpo humano.

Ele colecionou descrições de casos de pessoas com distúrbios neurológicos que serviram de base para seus livros mais famosos.

O principal deles talvez seja "Tempo de Despertar" (R$ 60, 452 págs., Cia. das Letras), que virou filme em 1990, com Robbin Williams e Robert De Niro.

Nele, Sacks faz um relato autobiográfico de sua experiência com pacientes catatônicos, que começam a "acordar" após o uso de uma nova droga.

A produção cinematográfica, que ganhou o mesmo nome da obra, recebeu três indicações ao Oscar e hoje é considerada um clássico.

Por mais que o tema da loucura seja por si só um grande atrativo para os leitores, Sacks lançou um olhar diferente e tolerante sobre o assunto, mais preocupado em reconstruir a identidade por trás dos portadores de doenças mentais e lançar luz sobre seu mundo tão particular.

Um exemplo disso está em "Um Antropólogo em Marte" (R$ 30, na versão bolso, 360 págs., Cia. das Letras).

Por meio de histórias de pessoas que chegaram a situações-limite (consideradas casos clínicos extraordinários), Sacks dá uma aula de respeito e de como observar o outro sem preconceitos pode nos ajudar a compreender melhor quem somos.

Esse conhecimento sobre a mente humana se refletiu em uma comovente carta sobre a vida, na qual Sacks abriu a alma aos seus leitores, em fevereiro deste ano, quando descobriu que seu câncer era terminal. Vale a pena citar um trecho aqui.

Quem não tiver lido ganha um incentivo a mais para conhecer a obra do britânico.

"Um mês atrás, eu achava que tinha saúde. Aos 81 anos, ainda nadava um quilômetro e meio por dia. Mas minha sorte mudou. (...) Só cabia a mim decidir como viver os meses que me restavam. (...) Não posso fingir que não tenho medo. Mas o meu sentimento mais importante é o de gratidão. Eu amei e fui amado.

Último livro traz relato de Sacks sobre a sua vida

Quem tiver se interessado pelo trabalho de Oliver Sacks pode e deve ler a autobiografia "Sempre em Movimento: Uma Vida" (R$ 59,90, 392 págs., Cia. das Letras).

Nela, ele fala do começo da carreira, do vício em drogas e da descoberta da homossexualidade, sempre com a honestidade e o humor que viriam a ser a marca de seu trabalho.

Vivian Masutti, 30 anos, é jornalista formada pela Cásper Líbero e bacharel em letras (português e francês) pela Universidade de São Paulo, onde também cursou a Faculdade de Educação e obteve licenciatura plena em língua portuguesa. No Agora, é editora-assistente do caderno "Show!" - vivian.masutti@grupofolha.com.br

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