Polícia

20/09/2009

Meninas do tráfico são maioria na antiga Febem

Luis Kawaguti
do Agora

O corpo esguio e as feições delicadas poderiam ter conduzido Ana Lúcia (nome fictício) a uma carreira de modelo. O desprendimento natural a teria ajudado a realizar seu sonho antigo: o curso de direito. Porém, aos 14 anos, ela entrou para o tráfico de drogas. Aos 16, chegou a gerente da "boca", comandando traficantes.

Depois de oito passagens pela polícia, seu lar hoje é a Fundação Casa, a antiga Febem. Histórias como a de Ana Lúcia são cada vez mais comuns entre as adolescentes internadas na instituição.

Um levantamento da entidade revelou que 47% das cerca de 280 jovens que cumpriam medida socioeducativa no primeiro semestre de 2009 foram detidas por causa do tráfico de entorpecentes. Elas representam 4,5% da população carcerária da instituição (cerca de 6.200 adolescentes), formada majoritariamente por meninos.

E a porcentagem das jovens sentenciadas por envolvimento com o tráfico está crescendo: no mesmo período do ano passado, o índice era de aproximadamente 43%. A segunda causa de detenção das adolescentes (22%) é o roubo qualificado (com uso de armas ou ajuda de comparsas).

Uma das explicações para a adesão ao tráfico é o alto "salário" pago pelo tráfico e as baixas condições financeiras das famílias das adolescentes. Algumas recebem em um dia o que levariam um mês para ganhar no comércio ou trabalhando como babás.

Atraída pelo irmão e incentivada por amigas, Ana Lúcia começou no tráfico como "vapor" --função que lhe rendia pagamentos semanais deR$ 400. Sua obrigação era levar a droga para os consumidores e recolher os pagamentos. Com o tempo, passou a namorar traficantes, saiu da casa dos pais e largou os estudos. Foi acolhida na casa da mulher que controlava o tráfico em seu bairro. "A cocaína era liberada lá, não cobravam o que a gente cheirava, fiquei viciada rapidinho", disse.

Ela experimentou participar de um assalto à mão armada, mas logo desistiu. "Traficar era muito mais fácil. No roubo você corria o risco de a pessoa ser um policial ou até alguém do crime", disse.

Em dois anos, Ana Lúcia foi promovida a gerente da "boca" e passou a administrar o movimento financeiro de uma região dominada por sua quadrilha. Nessa época, sua renda semanal triplicou e era gasta em noitadas e roupas.

"Eu tinha que ligar para o patrão quando não me obedeciam. Um dia, um cara usou a droga que tinha que vender e não pagou. Batemos nele muito. Eu bati com um pedaço de pau", disse.

Na última vez que a polícia fez uma operação na região, ela não conseguiu escapar. Há oito meses na Fundação Casa, diz que quer mudar de vida. "Já era para eu estar morta, apanhei muito de polícia. Aqui é muito sofrimento", afirmou.

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