Calote no financiamento de carro é recorde

A inadimplência no financiamento de veículos atingiu, em janeiro, o maior índice da história. Desde 1991, quando o Banco Central começou a registrar essa taxa, o calote não chegava a 4,7% --como foi registrado no mês passado.

Com esse aumento, o índice da inadimplência de pessoa física, no geral, acabou fechando o mês passado em 8,3%, o maior desde maio de 2002, quando o percentual de inadimplência foi de 8,4%.

Para calcular esse índice, são considerados os consumidores com pagamento atrasado há mais de 90 dias. Depois desse prazo, o devedor corre o risco de ter o carro retomado pelo banco e, com isso, perder o valor já pago.

Hoje, os bancos têm em conjunto um estoque de pelo menos 100 mil carros recuperados de inadimplentes.

A razão desse aumento expressivo da falta de pagamento nas linhas de financiamento de veículos, na opinião de especialistas, está relacionada à crise financeira, que fez com que muitos consumidores perdessem o emprego.

"Há alguns meses, o estímulo ao consumo era muito intenso. As pessoas acabaram fazendo dívidas a longo prazo e não imaginavam que haveria um corte tão bruto na renda", disse o professor do departamento de Economia da USP (Universidade de São Paulo) Davi Simão Silber.

Com a inadimplência em alta, os bancos deverão se precaver mais na hora de conceder crédito ao consumidor. Além de aumentar as taxas de juros --já que o risco da concessão de crédito aumenta-- também poderão exigir mais garantias ao consumidor que quiser contratar um empréstimo ou financiar um bem.

"O volume de crédito ficará menor e, por isso, a capacidade de consumo também deverá diminuir. Ainda mais porque o poder de compra dos brasileiros está caindo. Neste ano, a massa salarial tende a não ter nenhum aumento", afirmou Fábio Silveira, da RC Consultores.

O ministro da Fazenda, Guido Mantega, disse ontem que o aumento da inadimplência nessa época do ano (janeiro) é normal.