Memórias de Drauzio

"O Hulk tem bem o espírito do livro, um cara que está entre o bem e o mal, que você não sabe dizer se é um herói ou um vilão, que é capaz de parar de torturar um detento para subir as escadas e ir salvar outro que estava tentando se enforcar."

• Clique aqui para conferir o primeiro capítulo de "Carcereiros"

Assim Drauzio Varella descreve um de seus trechos favoritos de "Carcereiros" (R$ 33, 232 págs., Cia. das Letras), que, para o médico, representa a alma das histórias narradas no livro.

O carcereiro descrito por Drauzio como o "mais forte" que conheceu teve a vida transformada pelo ofício.

Chorou ao conseguir salvar o garoto que tentava o suicídio e nunca mais foi o mesmo depois de espancar um grupo de estupradores. Virou um justiceiro que decidia, ao final do dia, quem merecia apanhar na prisão.

A violência, aliás, é um dos fios condutores da obra. Acompanha as 36 histórias contadas por Drauzio e que fizeram, nas palavras do médico, com que ele tivesse "com clareza a percepção de que entre o bem e o mal existe uma zona cinzenta semelhante àquela que separa os bons dos maus, os generosos dos egocêntricos".

Mas não é só de sofrimento que o livro trata. Em meio a um ambiente fétido, Drauzio conheceu a solidariedade e se tornou grande amigo dos carcereiros com os quais conviveu durante anos e dos quais virou confidente.

É a partir das memórias dessas pessoas que o médico escreveu o emocionante "Carcereiros", o segundo livro de uma trilogia iniciada com o premiado "Estação Carandiru", de 1999.

A primeira obra narra, entre outras histórias, com requintes naturalistas, a partir das lembranças dos presos, o massacre que resultou na morte de 111 detentos em 1992.

O terceiro e último livro da série, "Prisioneiras", terá como ponto de partida o trabalho do médico na Penitenciária Feminina da Capital.

E trará novamente o sincero olhar do médico sobre a alma humana. Mas ainda demorará um pouco para chegar às prateleiras.

Drauzio conta que precisa ouvir muitas histórias e colocar no papel outras tantas para começar a escrever seu relato.

Enquanto isso, segue dividindo seu tempo com outros compromissos profissionais, como o projeto com plantas medicinais amazônicas.

Carandiru abrigou primeiro capítulo da saga do autor

Em "Estação Carandiru" (R$ 24 a edição de bolso, 232 págs., Cia das Letras), Prêmio Jabuti de 2000, o médico Drauzio Varella narra seus dez anos de trabalho como voluntário na Casa de Detenção de São Paulo, então o maior presídio do Brasil.

Com personagens como Mário Cachorro e Sem-Chance, a obra foi transformada em filme em 2003 por Hector Babenco e já vendeu centenas de milhares de exemplares.

Vivian Masutti, 27 anos, é jornalista formada pela Cásper Líbero e bacharel em letras pela Universidade de São Paulo - vivian.masutti@grupofolha.com.br

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