O adeus de Suassuna

Parte da festa literária deste ano acontecerá nas nuvens.

Depois das recentes mortes do baiano João Ubaldo Ribeiro e do mineiro Rubem Alves, foi a vez do paraibano Ariano Suassuna, na última semana, de deixar a vida para entrar na história da literatura brasileira.

O livro "Romance da Pedra do Reino"(R$ 70, 756 págs., José Olympio), uma de suas obras marcantes, carrega consigo o dom que fez de Suassuna tão especial: a habilidade de apresentar ao leitor, com apurado rigor literário, um retrato delicado da alma do povo nordestino.

Suassuna conseguiu transferir para romances e peças a beleza da rica cultura oral do sertão, passada de pai para filho durante séculos pela literatura de cordel.

A tradição dos relatos rimados, com melodia bem marcada, começou com os trovadores medievais e, no Brasil, ilustrou histórias como as façanhas do cangaceiro Lampião.

Na obra de Suassuna, o cordel ganhou corpo nas aventuras dos personagens Palhaço e João Grilo, do "Auto da Compadecida".

Já em "A Pedra do Reino", quem narra a própria história é Dom Pedro Dinis Ferreira-Quadrena, o autoproclamado "Rei do Quinto Império e do Quinto Naipe, Profeta da Igreja Católico-Sertaneja e pretendente ao trono do Império do Brasil".

As aventuras e delírios desse sertanejo contador de histórias viraram uma minissérie de cinco capítulos na Globo em 2007, que levava o nome do livro de Suassuna.

Vivido por Irandhir Santos, o protagonista recorria a seus antepassados e às suas memórias para lidar com suas inquietações existenciais.

Tanto no romance quanto no programa de televisão, Quaderna sonhava ser o "Grande Gênio da Raça", autor de uma grande obra literária que expressasse a verdadeira identidade nacional.

Na narrativa, Suassuna mistura ficção com realidade para reconstituir fatos marcantes do Brasil colonial. Uma aula de literatura brasileira.

Peça retrata no palco a tradição popular do cordel

Escrita por Ariano Suassuna em 1955, a peça "Auto da Compadecida" (232 págs., Agir) estreou nos palcos em 1956 e já no ano seguinte teve sua primeira publicação.

O livro simboliza o equilíbrio atingido pelo escritor entre a tradição popular e a elaboração literária, ao recriar no teatro episódios do cordel.

Vivian Masutti, 28 anos, é jornalista formada pela Cásper Líbero e bacharel em letras (português e francês) pela Universidade de São Paulo, onde também cursou a Faculdade de Educação e obteve licenciatura plena em língua portuguesa - vivian.masutti@grupofolha.com.br

Leia mais

• Tributo ao bom baiano
• Filho do terror
• Hermanos das letras
• Investigador histórico
• Ele é o cara