Médicos são condenados por tirar rins de pacientes vivos

Taubaté - A Justiça condenou ontem, após 25 anos do início do caso, e após quatro dias de julgamento, três médicos de Taubaté (140 km de São Paulo) a 17 anos e 6 meses de prisão pela retirada de rins de quatro pacientes que estavam em coma sem a devida comprovação de morte cerebral. Eles poderão recorrer em liberdade.

Após ficarem cinco horas em sala secreta, os sete jurados condenaram o urologista Rui Noronha Sacramento, o nefrologista Pedro Henrique Torrecilhas e o neurocirurgião e legista Mariano Fiore Júnior por homicídio doloso (com intenção de matar).

Os réus foram enquadrados nos artigos 121 e 18 do Código Penal, com o agravante de terem cometido os crimes no exercício da profissão.

Ao reabrir a sessão para ler a sentença, às 20h52, o juiz Marco Antônio Montemor disse que, apesar de os réus serem primários, trata-se da retirada espúria de órgãos, em um processo que considerou uma tragédia para todos os envolvidos.

As vítimas, José Miguel da Silva, Alex de Lima, Irani Gobo e José Faria Carneiro, tiveram seus rins retirados no Hospital Santa Isabel, atual Hospital Regional de Taubaté, em 1986.

"Os jurados tiveram a coragem de proferir uma decisão histórica sobre essa barbaridade praticada há 25 anos", disse o promotor Marcio Augusto Friggi de Carvalho.

"Os réus tinham absoluta certeza da impunidade, mas a sociedade de Taubaté mostrou que não é assim".

A defesa vai recorrer, atacando a decisão e a pena. "É uma decisão absurda, totalmente divorciada das provas", afirmou o advogado João Romeu Goffi Filho.

Comoção

O clima no fórum era de comoção. Na leitura da sentença, Sacramento desmaiou, provocando correria e choro entre parentes e amigos. "Meu Deus, uma tragédia, meu pai", gritou, aos prantos, a filha dele.

Ao fazer a sua tréplica, na manhã de ontem, o promotor bateu boca com os advogados de defesa. "Não se sintam intimidados pela pressão da família dos réus, influência dos médicos e pela presença de um eminente desembargador", disse Carvalho.

Ele falava de Sérgio Ribas, desembargador da 5ª Câmara Criminal do TJ-SP, que acompanhou parte do julgamento sentado na primeira fila. Ele é amigo de infância e paciente de Rui Sacramento.