Aluno leva revólver a sala de aula e cria dilema

Com um revólver Rossi calibre 38 na mochila, o estudante de 14 anos entrou na Escola Nossa Senhora das Graças, apelido "Gracinha", 1.100 alunos oriundos de 900 famílias de classe média alta paulistana, mensalidades da ordem de R$ 1.600. Reservadamente, o adolescente retirou o artefato da bolsa e exibiu-o para cinco colegas. Também mostrou munição -de uma arma calibre 32.

• Escola quer chamar especialista

O caso aconteceu no dia 14 de março. De lá para cá, a escola partiu-se em dois. Um grupo, ainda impactado pelas 16 mortes, apenas três dias antes, em massacre provocado por um estudante na cidade de Winnenden, Alemanha, exige a imediata expulsão do adolescente. Outra parte quer fazer do fato uma oportunidade para debater a violência.

O revólver calibre 38 que entrou na escola brasileira pertencia ao pai do estudante. Tratava-se de uma arma legal, registrada na Polícia Civil de Mato Grosso. Estava escondida em um armário. O menino encontrou-a porque estava atrás de um cabo de computador que os pais haviam retirado da máquina. Indo atrás do cabo, o rapaz encontrou o revólver.

Familiares, amigos e professores garantem que o menino não ameaçou ninguém com a arma. "É grave o que ele fez, mas não incluiu ameaça, e sim exibição", diz uma mãe.

Quem tomou a iniciativa de denunciar o ocorrido foram os próprios pais do adolescente. Informados sobre a traquinagem do garoto por outro pai, que soube da história pelo filho (um dos que viu a exibição), eles foram para a escola.

Na segunda-feira da semana passada, bem cedinho, a família estava toda lá: pai, mãe e aluno. Procuraram o diretor da escola, professor Eduardo Roberto da Silva, 58, e a coordenadora pedagógico-educacional, Maria Stella Scavazzi, 64.

A escola suspendeu o menino. Ele ficará em casa até que se tome uma decisão sobre sua permanência no corpo discente. Também incumbiu-o de realizar um trabalho com o tema "Cultura e Educação para a Paz".

O pai deu outras tarefas. "No domingo, mostrei ao meu filho as estatísticas de mortes por acidentes com armas de fogo [54% das quais envolvem crianças de 0 a 14 anos, com duas mortes por dia]." Na segunda passada, a família foi à sede da Polícia Federal no Aeroporto de Congonhas entregar a arma e a munição.

"A gente nunca havia conversado com o X. sobre como ele deveria se comportar em relação ao revólver. Era como se essa arma, que estava guardada, nem existisse em nossa casa. Ela não fazia parte das nossas vidas", diz a mãe.

"Eles tinham uma arma e nunca prestaram atenção ao imenso potencial destrutivo disso? E se tivesse morrido uma criança?", ataca um pai que quer o aluno seja expulso da escola.