Carro-forte levou propina a servidor, diz ex-diretora

Uma ex-diretora financeira da BGE, empresa do grupo Brookfield, afirma que a multinacional pagou, entre 2008 e 2010, R$ 1,6 milhão em propinas para a aprovação de obras irregulares dos shoppings Pátio Higienópolis e Pátio Paulista, na capital. Em um dos casos, diz ela,R$ 640 mil teriam sido entregues por um carro-forte.

Daniela Gonzalez afirma que a multinacional responsável pela administração de vários shoppings na cidade pagou propina a Hussain Aref Saab, ex-diretor do setor de aprovação de prédios da Prefeitura de São Paulo, e ao vereador Aurélio Miguel (PR).

Em uma ocasião, pelo valor de R$ 133 mil, Aref teria facilitado a liberação da reforma no Higienópolis, apesar de o local não comprovar as vagas de estacionamento necessárias (leia abaixo).

Já Aurélio Miguel, segundo a acusação, foi beneficiado porque liberou na CET, onde tem influência política, as obras de ampliação do Pátio Paulista, apesar de o empreendimento não ter cumprido exigências feitas pelo órgão na abertura, em 2001.

Daniela, demitida da empresa em 2010, repetiu as informações à Promotoria, que já apura o caso.

Notas fiscais

Segundo a ex-diretora, a propina era paga por meio de duas empresas: a PAN Serviços de Legalização de Documentos e a Seron Engenharia e Empreendimentos Imobiliários --que emitiriam notas fiscais como se tivessem prestado serviços de consultoria.

A propina era paga em dinheiro vivo, geralmente em estacionamentos de shoppings.

Em junho de 2009, diz Daniela, R$ 640 mil foram transportados em carro-forte para pagar Aref e Miguel.

Outros R$ 576 mil foram pagos a Aref, diz Daniela, por conta de mais irregularidades no Higienópolis.

A nota fiscal da Seron fala em "fiscalização" de reforma dos banheiros do shopping --todo o serviço custou R$ 2 milhões, diz Daniela, grana referente à propina para liberar o alvará da obra mesmo com irregularidades no empreendimento.

Resposta

Augusto de Arruda Botelho, advogado de Hussain Aref Saab, disse que seu cliente "nega categoricamente" ter recebido propina para liberar qualquer empreendimento imobiliário no período em que dirigiu o Aprov e que Aref nunca teve contato com Daniela Gonzalez.

O advogado disse que ela será denunciada criminalmente pelas acusações.

A BGE (Brookfield Gestão de Empreendimentos), braço da multinacional Brookfield, disse desconhecer "supostos atos de suborno e corrupção para com o poder público" para a liberação de shoppings dos quais é sócia.

A empresa divulgou nota em que afirma que que não permite, não tolera e não compactua com atos ilícitos e que é "implacável" no combate a esse tipo de ação.

A Seron Engenharia, empresa que, segundo Daniela Gonzalez, intermediava o pagamento de propina, informou que os pagamentos referem-se a obras no shopping Pátio Higienópolis (região central de SP) previstas em contrato e que todos os impostos foram pagos. A PAN Serviços de Administração também negou todas as acusações.

O vereador Aurélio Miguel (PR) disse ontem que está indignado com as acusações feitas pelas ex-funcionárias da Brookfield e que vai processá-las por danos morais.