Motoboys viram alvo de preconceito
Folha de S.Paulo
Quem anda de moto em São Paulo não reclama apenas dos perigos do trânsito. Os motociclistas da cidade também se dizem vítimas de preconceito. Dois motoboys foram mortos pela PM nas últimas semanas em São Paulo.
A reportagem foi à General Osório, rua da região central famosa pelas lojas e oficinas especializadas em motocicletas, e ouviu a mesma queixa tanto de pessoas que têm a moto como instrumento de trabalho quanto de quem a usa como meio de transporte.
"Basta estar em cima de uma moto que você vira um bandido. É assim que as pessoas raciocinam", afirma o motoboy Adilson Cabral, 28 anos, que trabalha para uma empresa de seguros.
A situação mais grave, segundo eles, é quando são parados nas blitze da Polícia Militar. "A abordagem é estúpida. Mandam pôr a mão na cabeça, são violentos, te chamam de vagabundo, multam por qualquer coisinha", afirma o motoboy Lúcio Rodrigues, 31 anos. "Existe uma minoria [dos motociclistas] que faz besteira [comete crime]. A maioria está na rua para trabalhar", diz.
O mecânico Tiago Cristiano, 26 anos, que só usa a moto para ir ao trabalho, diz ser parado pela polícia quase todos os dias: "Já levei pontapé [de policial]. O curioso é que eles nunca fazem isso com quem está de carro".
O constrangimento mais comum, segundo motociclistas, ocorre no sinal vermelho. Quando a moto para, quem dirige o carro não esconde o medo: fecha a janela, tranca a porta, esconde a bolsa.
"Algumas mulheres viram a cabeça para o outro lado", conta o advogado Sérgio Cordeiro. Ele diz que já se acostumou aos olhares tortos quando está em cima de uma de suas motos.
A moto permite fuga rápida, e o capacete impede a identificação do criminoso. Os motociclistas dizem que veem expressões de susto quando entram num imóvel com o capacete na cabeça.
Segundo a Abraciclo (associação de fabricantes de motos), São Paulo é o Estado com mais motos no país --cerca de 3,6 milhões.
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