13/02/2011

Egito diz que cumprirá acordos internacionais

Folha de S.Paulo

CAIRO - A junta militar que governa o Egito após a queda do ditador Hosni Mubarak, 82 anos, na sexta-feira, afirmou que vai cumprir com todas as obrigações internacionais do país. A declaração reduz as preocupações de que o futuro do acordo de paz com Israel e a estabilidade da região estariam em risco com a mudança do regime.

Africanos temem que clima de revolta se espalhe

Em Israel, onde os protestos causaram indisfarçável inquietação, o anúncio foi recebido com alívio.

O premiê Binyamin Netanyahu, que vinha evitando comentar sobre a situação no Egito, disse que o acordo de paz com o país vizinho "é um dos alicerces da estabilidade no Oriente Médio".

No quarto comunicado em três dias, o Conselho Supremo das Forças Armadas também afirmou que o atual governo, nomeado por Mubarak no início dos protestos, continuará funcionando até que um novo seja formado.

Ao mesmo tempo, a mídia egípcia noticiou que o ministro da Informação, Anas el-Fekky, está em prisão domiciliar. Um ex-premiê e um ex-ministro do Interior foram proibidos de deixar o país. As acusações contra os três não foram divulgadas.

No comunicado, a cúpula militar reitera seu compromisso com a transferência de poder a um governo eleito, mas não dá pistas sobre duas questões-chave: qual será a duração da transição e quando o estado de emergência será suspenso.

Festa

No primeiro dia sem Mubarak em quase 30 anos, a capital egípcia continuou ontem em festa. Preso há décadas à censura, o diário oficial "El Ahram" exaltou a revolução na manchete: "Povo derruba o regime". Ainda sob o som do buzinaço que durou a noite inteira, milhares de pessoas saíram às ruas com bandeiras do país e faixas com mensagens patrióticas.

Na praça Tahrir, epicentro dos protestos, uma multidão ainda celebrava o feito histórico, em clima de feriado nacional. Tendas eram desmontadas e as pessoas que passaram 18 dias se preparavam para voltar para casa.

Em entrevista coletiva no Cairo, uma coalizão de grupos que ajudaram a organizar os protestos pediram aos manifestantes que deixem a praça, pondo fim à vigília iniciada em 25 de janeiro.

O tom era de apoio aos militares como condutores da transição, mas surgiram sinais de rachadura na coalizão. ""Não devemos confiar no Exército, apenas no povo do Egito", disse Gehan
Shaaban, uma das porta-vozes do movimento.

O governo de Mubarak nasceu e e terminou de modo dramático. Como vice-presidente, ele estava sentado ao lado de Anwar Sadat em uma parada do Exército no Cairo, em 1981, quando soldados simpatizantes do islamismo voltaram suas armas contra o líder e o mataram.

Mubarak escapou por pouco. Oito dias mais tarde, assumiu o governo.

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