Areia da praia de Ipanema é a mais suja do Rio

RIO -- Se você estiver no Rio e for convidado para ir à praia, terá alguma dúvida se as opções propostas forem Ipanema, o bairro nobre da zona sul, ou Ramos, o bairro popular da zona norte cantado por Dicró e famoso pelo piscinão?

A escolha natural é Ipanema, mas pouca gente sabe que a praia frequentada por Helô Pinheiro e outras musas cariocas tem hoje areia mais poluída do que a de Ramos.

A análise quinzenal mais recente da prefeitura constatou que Ipanema possui mais de 30 mil coliformes totais por cem gramas de areia.

Isso significa a pior classificação na tabela da Secretaria do Meio Ambiente. As melhores praias têm até 10 mil coliformes totais. Ramos tem menos de 20 mil e é considerada boa, o segundo melhor estágio da classificação.

Só duas praias atingiram o melhor índice, ambas na zona oeste: Reserva, no Recreio dos Bandeirantes, e Prainha, entre Recreio e Grumari.

A pesquisa foi feita de 9 a 23 de janeiro. Segundo a prefeitura, a areia é recolhida a cada 15 dias, sempre das 6h às 9h e nos mesmos 35 pontos. Cada amostra contém 900 gramas, retirados da faixa seca mais próxima do mar. A análise é feita desde 2006, mas não era divulgada. Agora poderá ser consultada pela internet e no "Diário Oficial do Município".

Além de Ipanema, cuja areia é analisada em dois trechos (nas ruas Maria Quitéria e Paul Redfern), outras seis praias cariocas tiveram a pior avaliação: entre elas estão Arpoador e dois pontos da Barra da Tijuca.

A situação de Ipanema surpreendeu a gerente de monitoramento ambiental da secretaria, Vera Oliveira. "Como no período não choveu e na área não há emissão de esgoto que possa contaminar a areia, concluo que o problema seja a quantidade de cães na praia.

De acordo com Vera, vários fatores interferem na qualidade da areia da praia, como a chuva, a presença de animais, a quantidade de banhistas e a rede de esgoto no local.

Bicho geográfico
É proibido levar cães às praias do Rio de Janeiro. Desde dezembro, quem está com animais pode ser abordado por fiscais e orientado a retirá-los da praia. Mas não há registro do número de cães flagrados.

Segundo a dermatologista Jane Tomimori Yamashita, da Unifesp, a principal doença de pele gerada na praia é o bicho geográfico. "Depois que o cão contaminado defeca na areia, o micróbio [que causa a doença] fica lá por meses", afirma.

O bicho geográfico causa coceiras e marcas pelo corpo, devido ao deslocamento do micróbio sob a pele. O tratamento é feito com pomada.

Outro tipo de risco é de intoxicações que podem causar diarreia. "Isso é comum quando a pessoa põe a mão na areia e depois come um biscoito, por exemplo", afirmou a médica.