Senador nega ter usado mandato para ajudar bicheiro

Brasília - Em depoimento ontem ao Conselho de Ética do Senado, o senador Demóstenes Torres (ex-DEM-GO) negou ter usado o mandato para ajudar o bicheiro Carlinhos Cachoeira.

O parlamentar disse ter informado o "amigo" com antecedência sobre operação da Polícia Federal para "testar" se Carlinhos Cachoeira tinha atividades ilegais.

O depoimento foi a primeira fala de Demóstenes no processo sobre quebra de decoro, que pode resultar na cassação de seu mandato. Para tanto, ele precisa ser condenado no conselho e em votação secreta no plenário. Não há prazo para isso.

Demóstenes disse estar em depressão, tomando remédios desde o início das denúncias. Ele afirmou que vive o "pior momento" de sua vida, mas que tem "vergonha na cara" e, por isso, demorou um mês para voltar ao Senado e "ter coragem de olhar" para colegas. Disse ainda ter redescoberto Deus.

Acompanhado de seu advogado, Antônio Carlos de Almeida Castro, o senador procurou rebater todas as suspeitas em duas horas de fala.

Depois, por mais três horas, respondeu perguntas. Demóstenes disse ser vítima de uma "operação orquestrada" por policiais e procuradores para prejudicá-lo.

Ele também negou ter recebido dinheiro de Cachoeira ou feito lobby para ele ou pela legalização de jogos de azar. Mas admitiu ter atuado pela Vitaplan, indústria farmacêutica de Cachoeira, como fazia com "várias empresas" de Goiás.

Gravação

Sobre a gravação em que foi flagrado avisando Cachoeira de uma operação policial, Demóstenes disse que fazia "testes" com o amigo para confirmar se ele havia deixado a ilegalidade.

"Eu joguei verde em cima dele. Eu disse que tem operação conjunta da PF com o Ministério Público que nunca se realizou e nunca foi cogitada. Ainda assim, eu fazia esses testes com ele.

Para sustentar a versão de que não sabia da atuação de Cachoeira, de quem afirmou ser amigo, disse que tomou conhecimento só em março de "ilícitos" do bicheiro --preso por explorar esquema de jogo ilegal, lavagem de dinheiro e corrupção.

Demóstenes confirmou que Cachoeira lhe deu um rádio Nextel citado como antigrampo.

As contas, também pagas por Cachoeira, variavam de R$ 30 a R$ 50 por mês. O senador disse que a atitude foi um "erro".