Grupo de bicheiro também atuava no Incra, diz polícia

Brasília - Gravações telefônicas feitas pela Polícia Federal revelam que o grupo do empresário de jogos clandestinos Carlinhos Cachoeira, denunciado por comandar um esquema de exploração de caça-níqueis, negociou propina no Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária) com o objetivo de regularizar uma fazenda.

Segundo relatório da Polícia Federal da Operação Monte Carlo, "são veementes os indícios da corrupção de servidores públicos em troca das liberações para regularização da área".

Segundo a PF, foram pagos R$ 200 mil de propina para liberação do registro da fazenda, chamada Gama, nos arredores de Brasília (DF), em abril de 2011. As gravações indicam que o bicheiro e o empresário Cláudio Abreu, ex-diretor da Delta Construção e suspeito de integrar a quadrilha, compraram, em dezembro de 2010, 35% da fazenda por R$ 2 milhões.

O preço, considerado pela PF como abaixo do cobrado no mercado, é explicado pelo terreno estar em situação irregular. O objetivo seria obter lucro com a revenda.

A regularização, dizem os investigadores, dependia de registro chamado georreferenciamento, espécie de descrição do imóvel, com características e limites, que foi feito em oito dias. A apuração não avança sobre o que ocorreu com a terra depois.

Em gravação telefônica de 25 de abril, Gleyb Cruz, braço direito de Cachoeira, disse que já havia informado o empresário do compromisso que teria sido assumido pelo superintendente do Incra. "A gente tá com uma pessoa que pode estar alinhada (...), que é o superintendente do Incra", disse Cruz em gravação com autorização judicial. "Tal pessoa foi identificada como Marco Aurélio Bezerra Rocha", diz a PF.

Resposta

O superintendente do Incra no Distrito Federal, Marco Aurélio Bezerra da Rocha, negou ter mantido relações com o grupo do bicheiro Carlinhos Cachoeira.

Ele afirmou que pretende solicitar a abertura de uma sindicância no órgão para apurar o caso. Rocha reconheceu que o registro foi concedido pelo Incra, mas afirmou que ele poderá ser cancelado.

A defesa de Carlos Cachoeira manteve a posição de não se manifestar sobre o conteúdo das investigações.