21/04/2013

Gol histórico

Vivian Masutti
do Agora

"Neco arranca do campo brasileiro, dribla quatro jogadores, chega à linha de fundo e cruza para a área. Heitor salta e cabeceia, mas o goleiro espalma. No rebote, Friedenreich bate de primeira, com o pé esquerdo, para o gol." Era 29 de maio de 1919, no estádio das Laranjeiras, no Rio.

A seleção brasileira venceu a uruguaia com gol de Friedenreich, homenageado por Pixinguinha no chorinho "1 a 0", naquela que virou a maior façanha do futebol nacional até a Copa de 1938, quando o time de Leônidas conquistou o terceiro lugar na França.

Hoje, às vésperas da Copa das Confederações no Brasil, os ídolos são outros. Mas a paixão pelo esporte não diminuiu e só pode ser realmente compreendida voltando ao passado, a uma época em que o futebol era considerado amador.

Foram as décadas de 1910 e 1920 que moldaram os times que hoje levam multidões aos estádios. E é a partir deles que o jornalista Luiz Carlos Duarte, editor-geral do Agora, escreveu "Friedenreich - A Saga de um Craque nos Primeiros Tempos do Futebol Brasileiro" (R$ 30, 256 págs., Casa Maior Editorial), que será lançado nesta terça.

Pioneiro da seleção, Fried defendeu, entre outros clubes, o Ypiranga, o Paulistano e participou do primeiro São Paulo Futebol Clube. Nasceu em 1892, no bairro da Luz, com a cara do Brasil: filho de um catarinense e de Mathilde, uma professora mulata brasileira. Apesar da (falsa) lenda que dá conta de que teria feito mais gols do que Pelé, morreu pobre e no abandono, em 1969.

Quando terminei o livro, reafirmei minha convicção de que, para um brasileiro, conhecer um pouco da história do futebol é saber mais de si próprio. E é por isso que o leitor comum pode até penar com as descrições minuciosas de cada lance, mas vai gostar do relato. Quanto à nação de apaixonados por Neco, Amílcar, Heitor e Formiga, vai se deleitar com cada passe e vibrar com as multidões nos estádios e nas praças, diante de lojas e de jornais.

Em jogos distantes, os torcedores acompanhavam os melhores momentos descritos em cartazes. Não havia o rádio e a transmissão era realizada por telefone!

"O livro sustenta que o grande mérito de Friedenreich e de outros craques de sua geração foi criar o DNA dos principais fundamentos da escola brasileira de jogar futebol, os lançamentos, toques de primeira, uma variedade de dribles e infiltrações rápidas, que já se distinguiam do estilo praticado por argentinos e uruguaios", avalia Duarte.

Já o mérito do autor não está só na narrativa da vida de Fried, desde a vinda de seu avô, Guilherme, para o Brasil, em meados do século 19.

Duarte escreveu esse livro com a curiosidade de um jornalista, a paixão de um escritor, a loucura de um torcedor e o rigor obsessivo de um historiador.

Vivian Masutti, 27 anos, é jornalista formada pela Cásper Líbero e bacharel em letras pela Universidade de São Paulo - vivian.masutti@grupofolha.com.br

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