20/01/2013

O mensageiro

Vivian Masutti
do Agora

Criado pelos pais missionários em uma tribo indígena nas montanhas da antiga Nova Guiné Holandesa, o escritor canadense William P. Young, 57 anos, acredita ter encontrado uma maneira de conversar com Deus por meio da literatura.

Clique aqui e confira capítulo de "A Travessia"

Para ele, isso faz parte da relação especial que possui com seus leitores brasileiros. Dos 18 milhões de exemplares vendidos do best-seller "A Cabana", 3,5 milhões foram comprados no Brasil. Com isso, o livro, que mistura autoajuda e religião, tornou-se o segundo título mais vendido no país nos últimos dez anos (atrás de "Ágape", de padre Marcelo Rossi).

De casa, em Oregon (EUA), Young conversou por telefone com a coluna e falou sobre "A Travessia" (R$ 24,90, 240 págs., Arqueiro). No livro, um multimilionário egocêntrico entra em coma após sofrer um derrame cerebral. Quando acorda, ele se vê em um mundo surreal habitado por um estranho, que descobre ser Jesus, e por uma idosa, que é o Espírito Santo.

Agora - O que fez você escrever "A Travessia"?
William P. Young - Eu tenho perguntas a responder. É um processo de descoberta. Em "A Travessia", eu trato de questões diferentes das de "A Cabana", que é muito mais individual. "A Travessia" fala sobre como o leitor pode se transformar.

Agora - Gostaria de falar um pouco sobre a sua infância, sobre como ela influenciou a sua obra.
Young - Eu sofri assédio sexual quando era criança, algo que é comum em algumas culturas e fazia parte da tribo onde eu cresci. E também tive uma relação difícil com o meu pai. Ele ficava bravo e me batia. Nós guardamos muitas lembranças dolorosas. E isso é uma coisa que você não pode ficar comparando com as outras pessoas, é algo muito individual.

Agora - Qual é a função da religião?
Young - Você pode usá-la de maneira positiva, melhorando a educação e ajudando os pobres, mas pode causar preconceitos e opressão contra mulheres, além de forçar pessoas a agirem somente para agradar a Deus. Os sistemas são criados pelos humanos com a expectativa de que sejam perfeitos, mas não são. Vejo a relação com Deus algo à parte da religião.

Agora - É mais difícil fazer boas coisas se você não acredita em Deus?
Young - Se a religião causa muito sofrimento, o humanismo pode causar ainda mais. Religião e relacionamento são diferentes. Você pode ter uma religião e nunca ter uma verdadeira relação com Deus.

Agora - Você acha que seus livros são uma maneira de estar com Deus?
Young - Claro! Acho que a maneira como escrevo é bastante autêntica. É um convite a uma conversa com Deus.

Agora - Você tem muitos fãs brasileiros. Qual é a sua relação com eles?
Young - A melhor possível! Sempre recebo e-mails, mensagens afetuosas.

Vivian Masutti, 27 anos, é jornalista formada pela Cásper Líbero e bacharel em letras pela Universidade de São Paulo - vivian.masutti@grupofolha.com.br

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