Juventude roubada

Relato poético é destaque em "Charlotte"; obra narra a vida de uma jovem pintora alemã que atravessou os horrores da guerra

Como a escritora alemã Anne Frank (1929-1945), muitos jovens talentosos deixaram obras incompletas por causa do horror do holocausto, que acabou na morte de milhões de judeus na 2ª Guerra Mundial. Um deles foi a pintora alemã Charlotte Salomon, que morreu grávida, aos 26 anos, no campo de concentração de Auschwitz, na Polônia. Sua vida é descrita em "Charlotte" (R$ 44,90, 240 págs., Record), obra-prima do romancista francês David Foenkinos, que vendeu mais de 500 mil exemplares na França.

A maneira com que o escritor conduz a narrativa é em si uma obra de arte. Cada frase ocupa uma linha do livro, como versos que formam um longo poema, em que cada estrofe é um capítulo. Elas narram desde o nascimento da garota, que teve o nome inspirado na tia suicida. Se a arte está sempre presente –a mãe de Charlotte, Franziska, tocava piano–, a melancolia era marca da família. Depressiva, Franziska sofria de alterações repentinas de humor e ficava semanas de cama.

Era na paixão pela pintura que a jovem se refugiava. Tanto que seu talento e sua obstinação falaram mais alto do que os primeiros indícios do domínio nazista e Charlotte foi estudar na Academia de Belas-Artes de Berlim. Mas, embora tenha sido educada pelos pais de forma laica, a menina ganhou uma madrasta judia praticante, o que logo se tornou uma ameaça para toda a família. Principalmente depois que seu pai foi mandado para um campo de concentração, não era mais seguro para Charlotte permanecer em Berlim. Suas pinturas, felizmente, a acompanharam em sua fuga, que demonstrou uma vontade de viver incomum diante de seu histórico familiar.

Vivian Masutti, 30 anos, é jornalista formada pela Cásper Líbero e bacharel em letras (português e francês) pela Universidade de São Paulo, onde também cursou a Faculdade de Educação e obteve licenciatura plena em língua portuguesa