Ninguém está a salvo

Novidades e clássicos ajudam a entender melhor a depressão e contribuem para diminuir o preconceito em torno da doença

Angústia constante, tristeza sem motivo, desânimo, calafrios e indisposição são sintomas democráticos. Eles não escolhem classe social, gênero nem cor. Podem até ser confundidos com preguiça. Mas só quem não quer não vê que são indícios claros de uma doença chamada depressão.

O recém-lançado e já bestseller "Mentes Depressivas" (R$ 39,90, 288 págs., Principium) é um bom livro para os leigos no assunto, retratando as diversas faces da doença que, como uma gripe, precisa ser tratada. E, se não for tratada, pode matar. Simples assim. Não é doença de rico, de desocupado, de drogado. É doença e não torna ninguém melhor nem pior. Mas da obra-prima do assunto mesmo eu trato abaixo.

Obra-prima é uma leitura obrigatória a quem sofre do mal

Escrito em 2000, "O Demônio do Meio-Dia" (R$ 44,90, 584 págs., Cia das Letras -pode ser achado mais em conta) surgiu a partir da própria batalha do escritor Andrew Solomon contra a doença e é até hoje considerado uma referência. Ou mais: é uma obra-prima, vencedora do National Book Award e finalista do Pulitzer, e um livro obrigatório para todos que lutam contra a depressão ou possuem alguém na família que sofre do problema.

Ao longo da narrativa, Solomon desconstrói mitos, retorna na história da humanidade para lembrar que a melancolia não é um mal atual e descreve toda a sua luta contra os medicamentos (e a indústria farmacêutica) até chegar à conclusão de que eles são, sim, o melhor (apesar de não o único) caminho para se tratar.

Fala do tabu do suicídio, de crianças, de gays e vai até a Groelândia investigar o impacto da doença lá. Também descreve a trajetória de vítimas da batalha. É ingênuo achar que "O Demônio do Meio Dia" vai curar alguém da depressão, mas é certo que, ao ler o livro, eu me senti menos sozinha, fiquei eternamente grata a Solomon e prometi recomendar sua leitura ao maior número de pessoas que eu pudesse.

Vivian Masutti, 30 anos, é jornalista formada pela Cásper Líbero e bacharel em letras (português e francês) pela Universidade de São Paulo, onde também cursou a Faculdade de Educação e obteve licenciatura plena em língua portuguesa