Raphael vem para o Jantar

Em "Jantar Secreto", Raphael Montes seduz o leitor com história de horror policial sobre canibalismo de luxo, trama ágil e humor negro

Aos 26 anos, Raphael Montes é genial, um prodígio do crime. Claro, ainda não é um gênio do ofício como Rubem Fonseca, mas representa muito bem a nova geração da literatura policial. Seu mais recente trabalho, "Jantar Secreto" (R$ 39,90, 368 págs,Cia. das Letras), evoca o tabu do canibalismo para apresentar uma trama contemporânea, cheia de referências sociais e econômicas, e conduzida por uma linguagem veloz. As sacadas inteligentes de humor negro são outro destaque do texto.

No enredo, narrado em primeira pessoa por um rapaz chamado Dante, quatro amigos de uma cidadezinha do interior do Paraná vão dividir um apartamento em Copacabana quando entram na faculdade. Crise econômica, mercado cruel. A vida não é fácil com nenhum deles e, quando se formam, mal conseguem se sustentar sozinhos na capital.

Dante se graduou em administração e trabalha em uma livraria; Hugo é chef, mas não consegue se estabelecer; Miguel virou médico e faz residência em um hospital público da periferia, e Leitão abandonou o curso de ciências da computação para viver de pequenos golpes na internet.

É justamente ele, obeso mórbido, maconheiro e tarado, que mete os amigos em uma fria. Leitão se apaixona por uma prostituta chamada Cora e gasta o dinheiro de seis meses de aluguel com ela.

Prestes a serem despejados, os quatro resolvem fazer jantares no apartamento para arrecadar a grana. Os problemas começam quando Leitão tem um acesso de espírito de porco e publica no site de jantares, apenas por alguns momentos, que o cardápio incluirá carne humana.

O que eles não esperavam é que houvesse tanta gente endinheirada interessada em pagar caro pelo tal cardápio "exótico". A partir daí, o enredo vai ficando doentio e ganhando contornos de uma história de terror, quando corpos são despelados, pendurados no meio da sala e o lado mais sombrio dos personagens assume o controle.

Vivian Masutti, 30 anos, é jornalista formada pela Cásper Líbero e bacharel em letras (português e francês) pela Universidade de São Paulo, onde também cursou a Faculdade de Educação e obteve licenciatura plena em língua portuguesa.