Show!
16/02/2009

"Eu queria mesmo é trabalho", diz Tinoco

Alberto Pereira Jr.
do Agora

A disposição de menino contrasta com a fala pausada e o rosto marcado pela idade e pela experiência. José Perez, 88 anos, o Tinoco, ícone da música caipira, continua na ativa. Mas, além do amor à profissão, outro motivo faz o sertanejo, que tem 74 anos de carreira, enfrentar os palcos: a necessidade.

"Deus deu o dom da música para Tonico e Tinoco não para comprar fazenda ou para enriquecer. O nosso trabalho sempre foi envelhecer fazendo boa moda de viola", afirma o sertanejo, que, desde a morte de seu irmão Tonico, em 1994, viu os convites para shows ficarem cada vez mais escassos. As 20 apresentações por mês do passado não ultrapassam quatro hoje em dia. O cachê também despencou: de R$ 20 mil para valores que ficam entre R$ 2.000 e R$ 4.000. De festas particulares a quermesses, Tinoco não dispensa trabalho, quase sempre pelo interior do Estado.

As dívidas, porém, não pararam de crescer. Aos gastos cotidianos se somaram as despesas com os remédios dele, que sofre de hipoglicemia, e de sua mulher, Nadir, 71, diagnosticada com câncer no pâncreas, no ano passado. Como fonte de renda fixa, apenas a aposentadoria de R$ 1.000 de radialista.

"Faz quase um ano que estamos gastando com a doença da Nadir. As aplicações dos remédios aumentaram para mais de R$ 6.000. Comecei a gastar o que tinha e o que não tinha. O que nós tínhamos, sítio, terra, foi embora. Até na TV eu fui pedir que me ajudassem com trabalho. Quem quisesse dar dinheiro podia dar, mas eu queria mesmo é trabalho", declara o artista, que encontrou nas rifas uma forma de levantar recursos. Além de sortear violas em seus shows, ele está vendendo rifas do carro de sua mulher, um Gol 1998.

Apesar de tudo, Tinoco não é de ficar reclamando da vida. Mostra-se disposto a continuar cantando, mesmo que, para isso, encare horas de estrada. E é com os fãs que se realiza: "Pessoas de um a cem anos me abraçam, me beijam e pedem foto. Eu não saio do palco para o camarim, fico do lado de fora para tirar fotos com as pessoas. Desde o tempo com o Tonico, nunca deixamos de atender o público".

A reportagem acompanhou Tinoco em uma de suas recentes apresentações, no salão de uma igreja de Piracicaba. O músico saiu de casa na Mooca, zona leste de SP, na manhã de sábado (dia 7 de fevereiro). Acompanhado pelo filho, José Carlos Perillo Perez, 49 anos, e da mulher, Nadir, com quem vive há 56 anos e que deixara de viajar com ele por cinco meses por conta da doença, foi de carro até a cidade, que fica a 160 km da capital.

Ignorando uma dor no ouvido direito --ele é surdo do esquerdo--,Tinoco encarou as mais de duas horas de estrada para cantar seus sucessos para 700 pessoas no salão da capela Imaculada Conceição, que fica em um bairro periférico de Piracicaba. Seu filho, que é empresário, produtor e motorista, operou o som. O sertanejo se apresenta sozinho e faz as duas vozes --por isso, canta ao vivo em cima do playback da segunda voz.

O show beneficente, com ingressos a R$ 2, reuniu fãs de todas as idades. "Ele tem uma história de vida muito bonita e representa a verdadeira música caipira", elogiou Guilherme Palazzi, 15 anos, de Paulínia (interior paulista). "Vim tirar fotos para minha mãe, que está doente. Ela é muito fã. Meu pai dedicou 'Moreninha Linda' para ela quando se conheceram", falou a professora Cleide Magro, 28. Para Roque Nazato, 63, ao lado do irmão, Tonico, Tinoco formou a melhor dupla sertaneja do país. "Todos os dias escuto suas músicas."

Entre uma música e outra, o artista distribuía acenos, fazia piadas e disparava novidades. "Se Deus quiser, em breve, vocês poderão me ver na TV", contou ele, sobre o projeto de voltar às telas --na década de 80, ele e o irmão apresentaram o programa "Na Beira da Tuia", na TV Bandeirantes. Tinoco também quer escrever um livro de memórias até o ano que vem.

História
Esquecido por novas duplas e antigos parceiros, Tinoco minimiza o fato de não ser lembrado por grandes nomes do gênero. "Eles não têm tempo de se lembrar de quem os ajudou." Mesmo assim, o sertanejo segue cantando e sendo admirado por fãs, que o abordam nas ruas, aonde quer que vá. Se parará de cantar um dia? "Só quando Deus mandar", conclui.

Tonico e Tinoco compuseram mais de 1.500 modas de viola. A dupla, que ficou conhecida como Coração do Brasil, já cantava em terços e festas religiosas de Pratânia (a 264 km de SP) --sua cidade natal. Mas, ao chegar à capital, na década de 40, viu a sua vida se transformar.

"Não viemos para cantar. Éramos em seis irmãos. Viemos para trabalhar. Mas fomos cantar no festival da rádio Difusora. Lembro que, chegando lá, entramos, cantamos e saímos de costas, de cabeça baixa", recorda Tinoco. A dupla venceu a disputa e conseguiu um contrato de três meses na emissora, mas ficou mais de dez anos.

A partir daí, o sucesso foi se propagando. Passaram por diversas emissoras de rádio e protagonizaram sete filmes. Como artistas, também divulgaram diversos clássicos da música sertaneja, como "Menino da Porteira", "Chico Mineiro" e "Moreninha Linda". "Nossas músicas são temas de vida, por isso elas entram no coração das pessoas e não saem mais. São de verdade", conta ele.

Esse passado de glória --que inclui 220 LPs de 78 rotações, 30 compactos simples e duplos, 76 LPs de 33 rotações, três CDs inéditos e 20 remasterizados-- não garantiu bons rendimentos a Tinoco, que, por sua vasta obra, recebe apenas R$ 2.000 de direitos autorais a cada três meses. "Você tem de receber o que eles te dão. No começo, eu briguei, quebrei mesa. Eu marcava, mas o pagamento vinha e chegava muito menos."

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