Polêmica de pi

Um jovem foge da Alemanha nazista para o Brasil em um navio, que naufraga. O rapaz se salva em um bote com um jaguar, que também estava na embarcação.

Agora, troque a Alemanha pela Índia, o Brasil por Canadá e o jaguar por tigre de Bengala. Essas são as diferenças estruturais entre os livros "Max e os Felinos" (1981), do gaúcho Moacyr Scliar (1937-2011), e "As Aventuras de Pi"(R$ 34,90, 424 págs., Nova Fronteira), do canadense Yann Martel.

Uma tradução da obra de Martel chega ao Brasil em meio a acusações de plágio, ressaltadas pela proximidade do Oscar. Isso porque "A Vida de Pi", filme de Ang Lee inspirado no livro do canadense, é um dos favoritos na cerimônia de 24 de fevereiro.

A história toda ficou feia para o escritor, que declarou que "quis aproveitar uma boa ideia estragada por um escritor ruim", obviamente sem conhecer a grandeza da obra de Scliar.

Antes de morrer, o gaúcho deu uma entrevista à L&PM Editores, que pode ser vista no YouTube, dizendo que não pretendia processar o outro.

Afirmou que lhe daria muito trabalho e que não considerava plágio a utilização da sua ideia. Mas ressaltou a "imaturidade emocional" com a qual Martel se portou.

De qualquer forma, "As Aventuras de Pi" é um bom livro, que prende, apesar da temática ser mais familiar aos orientais. Mas não se compara a "Max e os Felinos".

Livro de Scliar é contra a ditadura

Acima, o canadense Yann Martel e, abaixo, o gaúcho Moacyr Scliar Uma diferença bastante clara entre "Max e os Felinos" e "As Aventuras de Pi" é que, enquanto este último trata de uma história religiosa e, portanto, mais universal, o primeiro é um símbolo da resistência no período da ditadura militar no Brasil.

"O garoto e o jaguar retratam como a gente se sentia diante de algo tão feroz que não queria nem poderia ser compreendido", diz o escritor gaúcho, no vídeo disponível no YouTube.

Na introdução da edição de bolso de 2001 da L&PM (R$ 16, 129 págs.), Scliar incluiu sua posição intelectual sobre a polêmica acusação de plágio.

Vivian Masutti, 27 anos, é jornalista formada pela Cásper Líbero e bacharel em letras pela Universidade de São Paulo - vivian.masutti@grupofolha.com.br

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