Craque em busca de perfeição

Tostão é modesto. Até demais. Não é à toa que o seu recém-lançado livro se chama "A Perfeição Não Existe" (R$ 37, 288 págs., Três Estrelas).

Nele, o ex-jogador e cronista em exercício reúne textos publicados durante dez anos de trabalho na imprensa e usa o futebol para analisar as imperfeições da natureza humana.

Agora - Gostaria de saber em que medida o título do seu livro se relaciona com a obra como um todo.
Tostão - É o título de uma crônica sobre a seleção brasileira de 1970, que é muito elogiada até hoje. Então, eu faço uma análise de que as coisas não eram tão maravilhosas, e é por isso que a perfeição não existe.

Agora - Você é muito crítico. Faltam céticos no mundo do futebol?
Tostão - Há muito oba-oba, em parte porque as pessoas gostam de elogiar e porque existe uma parceria da imprensa com o que acontece no futebol. É como se promover o futebol fosse bom para todo o mundo, como se fosse um produto.

Agora - Você gosta de ler ficção? Tem escritores que lhe agradam?
Tostão - Tenho uma cultura vasta, mas há autores que leio e releio muito. Eu exagero, é uma crítica que faço a mim mesmo. Clarice Lispector, Fernando Pessoa e Carlos Drummond de Andrade, além de cronistas, como João Saldanha e Nelson Rodrigues.

Agora - Nas suas crônicas, você não analisa só o futebol, mas o ser humano, e isso dá base para um bom romance. Já pensou em escrever algum?
Tostão - Já pensei em escrever uma ficção com o futebol de pano de fundo. Sou muito autocrítico. Para fazer uma coisa dessas, deveria ser muito boa. Já até comecei, pensei em fazer em contos, que fica mais fácil e de acordo com o meu estilo, sou conciso. Mas não assumi uma personalidade de escritor, sou cronista de futebol.

Agora - Há quem diga que futebol não é jornalismo, é entretenimento, mas pelo futebol a gente consegue revelar elementos interessantes da essência humana. Queria saber como você vê essa poesia no futebol.
Tostão - Eu, às vezes, divago. Gosto de filosofia de botequim. Não tenho nenhuma pretensão de ser um intelectual, um filósofo. Fiz psicanálise e poderia exercer a profissão, mas não achei que fosse o caso. Gosto de comportamento humano, uma frase aqui, outra ali. Às vezes, fica uma coisa meio básica, mas faço ali uma associação de ideias. Tem leitores que gostam das minhas crônicas, mas não gostam de detalhes técnicos. Outros gostam porque eu tento fazer uma análise. No outro dia, quando leio o jornal, sempre acho que poderia ter falado coisas mais interessantes.

Agora - O que esperar agora?
Tostão - Vou continuar fazendo crônicas, mas romance, definitivamente, não. Se fosse mais jovem, poderia tentar.

Vivian Masutti, 25 anos, é jornalista formada pela Cásper Líbero e bacharel em letras pela Universidade de São Paulo - vivian.masutti@grupofolha.com.br