22/07/2018

Seis anos que mudaram tudo

Cristiane Gercina
do Agora

Na última sexta-feira, 13 de julho, minha caçula, Laura, fez seis anos; nem acredito que chegamos até aqui e que sobrevivemos a tudo

Em 2007, quando minha primogênita Luiza nasceu, eu vivi em céu de brigadeiro. Não sei o que é sofrer um puerpério. Eu flutuava em nuvens lindas com a minha bebê tão amada e tão esperada nos braços. Janeiro, verão, céu azul, Araraquara. Era o sonho da vida que eu queria. Quilos a mais não me incomodaram. Eu fazia parte do meu tão sonhado universo materno, mesmo sem pertencer a grupo algum. Sozinha, sem nenhum parente, passei meus dias com minha pequena comemorando o que estávamos nos tornando: eu, mãe. Ela, minha filha.

Sempre ouvia as mulheres falarem sobre as angústias e os medos de se tornar mãe e eu não entendia. Para mim, foi escolha e realização, andando de mãos dadas no melhor momento da minha vida.

Com Laura, há seis anos, foi diferente. Não planejei ter a minha filha caçula. Quando descobri a gravidez, já estava com 13 semanas de gestação. Morando em São Paulo, funcionária de um grande jornal, trabalhando sem parar. Cidade grande, trânsito, poluição, barulho, frio. As incertezas cresciam em mim conforme a minha barriga aumentava. Será que vou dar conta de duas filhas? Como é que eu fui engravidar de novo após cinco anos e uma quase tranquilidade reinando em nossa casa? Eu vou conseguir amar duas filhas da mesma forma? Vou conseguir carregá-las? Serão parecidas?

Era uma nova Cris nascendo. Diferente daquela outra, que havia parido Luiza com tantas certezas na vida. Com Laura, todas as minhas certezas caíram por terra. Eu queria parto normal. Fiquei em trabalho de parto por 12 horas.

Laura nasceu de parto cesárea, com 4,5 kg e foi o maior bebê da maternidade, filha da menor mamãe. Calma, tranquila, dorminhoca e gorducha. Chegou chegando sem caber na roupinha RN que eu comprei com tanto amor. Chegou não cabendo em nenhum pensamento ou convenção que eu criasse para ela.

A minha caçula veio para me mostrar do que eu sou capaz. Para me fazer colocar os pés no chão e olhar com profundidade para os meus sentimentos. Laura chegou para me provar que eu sei educar, amar, cobrar, ser firme e ter o ser mais meigo da face da Terra ao meu lado.

Seis anos depois, na madrugada de sexta-feira, dia 13 de julho, aniversário de minha pequena, senti as mesmas angústias que eu vivenciei antes daquele parto. Porque mudanças sempre nos tiram do eixo. E, em meio a lágrimas, eu me lembrei de como foi sair da maternidade segurando minha pequena, calma e tranquila. Éramos eu e um novo bebê, com um caminho novo para construirmos juntas. Em família, ao lado da irmã e do pai. E aquele bebê me ensinou a confiar ainda mais na força do amor.

Eu sei que Laura, Luiza e o jornalismo me moldam, me transformam, me tiram do eixo, me fazem chorar, mas me dão as maiores alegrias. Iremos todos crescer. E celebrar ainda mais os ensinamentos que só a maternidade me dá.

Cristiane Gercina, 38 anos, é mãe de Luiza, 11, e Laura, 5. Graduada e pós-graduada pela Unesp, é editora-assistente de Grana do Agora. É apaixonada pelas filhas e por literatura.

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