12/11/2017

Colo de mãe: Tudo sobre minha mãe

Cristiane Gercina
do Agora

O dia em que eu voltei de Araraquara (a 273 km de SP) para São Paulo, 14 anos depois de ter ido para o interior do Estado estudar e fazer carreira, com uma filha de três anos na bagagem, cachorros, um marido e muita história para contar, minha mãe estava comigo.

E ela estava comigo nos primeiros dias de vida da Luiza, foi ela quem fez meu bolo de casamento, todos os doces, arrumou a mesa e cuidou de arranjar comes e bebes para parentes que pegaram a estrada tarde e chegaram depois da festa de casamento.

Minha mãe esteve comigo durante todos os dias de minha vida, mesmo quando não estávamos fisicamente juntas.

Foi ela quem quis que eu estudasse, que pagou para eu tirar carteira de habilitação porque queria que eu dirigisse –coisa que ela não conseguiu fazer– e também me ensinou a cozinhar e a cuidar das filhas como ninguém.

Minha mãe é quem está comigo todos os dias, desde as consultas ao pediatra até o momento em que a gente decide o cardápio diário das meninas.

E mesmo hoje, que eu já sou mãe, é minha mãe quem está ao meu lado quando fico doente, garantindo o conforto que somente a condição de filha me traz.

Dona Netinha, ou "tia Dete", fez 62 anos na última quinta e ainda não se aposentou. Esse é um dos grandes sonhos dela.

Sonho que lhe foi tirado por dezenas de patrões que a exploraram como empregada doméstica e por outros que, quando lhe assinaram a carteira de trabalho, não pagaram as contribuições ao INSS. O outro sonho é ter uma cozinha gigante.

Minha mãe não teve mãe. Minha avó morreu quando minha mãe tinha três anos. Minha mãe não concluiu o primário. Minha mãe carregou balde de água na cabeça. Minha mãe se casou aos 21 anos e, só depois disso, saiu do sítio onde vivia, vindo direto para São Paulo.

Minha mãe enfrentou o machismo do meu pai para poder trabalhar (coisa comum naqueles tempos). Minha mãe enfrentou quem ela pôde para nos alimentar.

Minha mãe tinha tudo para ser infeliz, mas não se entristece nem deixa de ir à luta. É a avó mais presente que Luiza e Laura poderiam ter. Cuida delas todos os dias, com aquele amor que desconheço, pois não convivi com as minhas avós.

Minha mãe, nascida em Pernambuco, viu o mar de Boa Viagem pela primeira vez no início deste 2017.

E viu também o rio Capibaribe. E eu vivi um dos momentos mais emocionantes da minha vida. Um brinde a você, mãe. Eu quero poder realizar todos os seus sonhos, como você realizou os meus. Parabéns!

Cristiane Gercina, 38 anos, é mãe de Luiza, 10, e Laura, 5. Graduada e pós-graduada pela Unesp, é editora-assistente de Grana do Agora. É apaixonada pelas filhas e por literatura.

Quer ver o desenho do seu filho publicado na coluna? Envie-o para o e-mail colodemae@grupofolha.com.br com nome completo e idade da criança, nome do responsável e celular do responsável.