Morre uma geração

Aos 73 anos, o ator e dramaturgo Sam Shepard morreu de forma lenta e agonizante. Vítima de esclerose lateral amiotrófica –doença nervosa que enfraquece os músculos e afeta as funções físicas–, o artista levou consigo, na última semana, uma forma intensa de ver o mundo, sob um olhar rebelde, disposto a desconstruir a realidade só para colocá-la de pé novamente à sua maneira.

Apesar de ser lembrado por muitos pela participação em filmes como "Os Eleitos" (1983), que lhe valeu indicação ao Oscar de ator coadjuvante, e "Falcão Negro em Perigo" (2002), Shepard obteve reconhecimento da crítica com a peça "Buried Child" (criança enterrada, em inglês), que captou a alma e o imaginário americano sob o ponto de vista de um rapaz que retorna à casa dos avós e encontra uma série de segredos.

A montagem foi uma das que captaram o lado sombrio das famílias americanas e lhe rendeu o Prêmio Pulitzer de 1979. Lançada aqui com o título de "Crônicas de Motel" (R$ 21,90, 126 págs., L&PM), de 1982, a coletânea o consagrou como autor singular.

Autobiográfico, evoca lembranças da infância ao lado da mãe, a juventude no oeste americano, o trabalho como caubói, bicos como garçom, roqueiro, até o sucesso. Partes do livro estão no filme "Paris, Texas" (1984), que levou a Palma de Ouro do Festival de Cannes.

Igualmente interessante na vida pessoal, Shepard largou a faculdade para se juntar a um grupo itinerante de teatro antes de se fixar em Nova York. Tocou bateria, colaborou com Bob Dylan, namorou a cantora Patti Smith e foi casado por 30 anos com a atriz Jessica Lange.

Vivian Masutti, 32 anos, é jornalista formada pela Cásper Líbero e bacharel em letras (português e francês) pela Universidade de São Paulo, onde também cursou a Faculdade de Educação e obteve licenciatura plena em língua portuguesa