Identidade perdida

Assim como muita gente saiu emocionada dos cinemas ao ver "Lion", que conta uma história real e comovente na medida certa, é difícil ler o livro que inspirou o filme, "Uma Longa Jornada para Casa" (R$ 34,90, 224 págs., Record), sem se impressionar com a saga do indiano Saroo Brierley. No relato autobiográfico, ele conta sua trajetória desde que se perdeu da família, aos cinco anos, na Índia. Ainda garoto, chegou a morar nas ruas antes de ir para um orfanato e ser adotado por um casal australiano.

Durante a vida de oportunidades na Austrália, Saroo nunca deixou de se lembrar de quando dividia uma casa de um cômodo, sobre o chão formado por lama, esterco de vaca e palha, com a mãe e os irmãos. É impressionante a memória que tem de quando atravessou a Índia, chegando a Calcutá, ainda criança. Não que deva ser fácil se esquecer do que passou nas ruas, analfabeto, sem saber o próprio sobrenome nem o endereço de casa.

Foi justamente o sofrimento, visto de perto, que fez a mãe australiana de Saroo escolher sua missão no mundo: adotar órfãos de países necessitados. E foi assim que fez com ele e o irmão, Mantosh.

Saroo é profundamente grato e ama os pais adotivos, que o enchem de orgulho e admiração. Mas a investigação que fez para descobrir o paradeiro da família biológica, desafiando os limites da memória, é o que torna sua história universal. Na busca por um sentido para a sua existência, ele acabou encontrando mais do que a própria identidade. Um sentimento capaz de unir suas duas famílias e que surge onde existe amor: esperança.

Vivian Masutti, 30 anos, é jornalista formada pela Cásper Líbero e bacharel em letras (português e francês) pela Universidade de São Paulo, onde também cursou a Faculdade de Educação e obteve licenciatura plena em língua portuguesa

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