19/07/2015

Ao mestre, com carinho

Vivian Masutti
do Agora

Autor da minissérie "Felizes para Sempre?", exibida pela Globo entre janeiro e fevereiro deste ano, Euclydes Marinho foi responsável, há 19 anos, por adaptar para a televisão algumas das melhores histórias de "A Vida Como Ela É" –conjunto de contos, conduzidos por sexo, amor, morte e traição, publicados pelo jornalista e escritor Nelson Rodrigues (1912-1980) ao longo dos anos 1950.

Na época da produção, Elza, viúva de Nelson, disse que Marinho parecia "receber" o escritor ao escrever o roteiro das cenas que iam ao ar aos domingos, sempre após o "Fantástico".

"Isso me encheu de orgulho. Se eu recebi, não sei", conta o autor, em entrevista publicada no lançamento "Nelson Rodrigues na TV" (R$ 39,90, 248 págs., Nova Fronteira), edição que traz as principais tramas de "A Vida Como Ela É" exibidas pela Globo em 1996.

"O Monstro", "Divina Comédia", "Uma Senhora Honesta", "Dama do Lotação", "Marido Fiel", "Viúva Alegre", "A Esbofeteada" e "Sem Caráter" estão entre as 30 histórias reunidas no novo livro, que tem uma interessante apresentação escrita por Malu Mader.

Nela, a atriz, que participou de sete episódios da série, fala do início de sua paixão por Nelson, em 1993, quando leu a coletânea de crônicas "O Óbvio Ululante".

"Dali por diante, Nelson seria meu amante, meu pai e professor. Aprendi mais sobre um Brasil passado, presente e futuro (o de agora) do que em toda a minha vida no colégio", destaca Malu, que encerra seu texto citando um depoimento do ídolo. "Meus diálogos são realmente pobres. Só eu sei o trabalho que me dá empobrecê-los."

Enxutas, diretas, cheias de vozes e entremeadas por intertítulos, as narrativas rodriguianas reunidas no livro se valem de uma estrutura leve para conduzir o leitor aos bastidores da vida cotidiana popular, desnudados de maneira tão brutal quanto sincera pelo escritor.

Nelas, Nelson obriga seus personagens a confessarem verdades obscenas que não costumam ser ditas nem ao espelho.

Um belo e oportuno convite aos que ainda não conhecem a obra do brasileiro para apreciar e se entreter com um clássico da literatura nacional.

Aos que já são fãs do mestre, nunca é demais para reler uma obra-prima, que sempre proporciona uma nova interpretação.

Vivian Masutti, 29 anos, é jornalista formada pela Cásper Líbero e bacharel em letras (português e francês) pela Universidade de São Paulo, onde também cursou a Faculdade de Educação e obteve licenciatura plena em língua portuguesa. No Agora, é editora-assistente do caderno "Show!" - vivian.masutti@grupofolha.com.br

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