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Rei da crônica
Vivian Masutti
do Agora
Embora fosse improvável que uma cidadezinha quente e pacata, cortada por um rio, no interior do Espírito Santo, virasse a terra de dois dos maiores artistas do Brasil, isso aconteceu.
Além de ser a casa do longevo cantor Roberto Carlos, Cachoeiro do Itapemirim é o local onde nasceu e cresceu Rubem Braga (1913-1990), escritor e jornalista brasileiro que em 2013 faria cem anos.
Dizer que o literato revolucionou o gênero da crônica moderna no Brasil (quando morreu, deixou mais de 15 mil delas) seria pouco para descrever a importância de Braga na literatura, na política e na vida social no país no século 20.
É por isso que recomendo a leitura da biografia "Rubem Braga: Um Cigano Fazendeiro do Ar" (R$ 69,90, 648 págs.), que ganhou uma edição especial revisada e comentada pela Globo Livros.
A obra é resultado de dez anos de pesquisas de Marco Antonio de Carvalho, curiosamente, conterrâneo de Braga e Roberto Carlos. Esse autor fez nada menos do que 270 entrevistas, e seu esforço se reflete diretamente na qualidade e na precisão do trabalho como biógrafo.
O livro traz facetas de Braga pouco conhecidas do grande público que não presenciou os momentos históricos dos quais o escritor foi testemunha ocular.
O sensível cronista (que também trabalhou como jornalista e correspondente internacional) foi o único que testemunhou a rendição dos alemães à Força Expedicionária Brasileira na Itália, em abril de 1945, no fim da Segunda Guerra Mundial. Nessa época, já havia estado presente na Revolução Constitucionalista de 1932, em São Paulo.
Além disso, estão retratadas no livro experiências de Braga como cônsul e embaixador do Brasil no Chile e no Marrocos, assim como detalhes de sua amizade com Paulo Mendes Campos (1922-1991), Otto Lara Resende (1922-1992) e Vinicius de Moraes (1913-1980).
Da juventude nômade, marcada por "O Conde e o Passarinho" (1936) e "O Morro do Isolamento" (1944), alternada por casos amorosos e perseguições políticas, à maturidade melancólica de "A Borboleta Amarela", Braga costumava dizer que o cronista consegue atingir algo inalcançável pelo jornalista.
"O jornais noticiam tudo, menos uma coisa tão banal de que ninguém se lembra: a vida."
A frase me fez recordar de uma máxima dita por alguém.
"Enquanto o jornalista usa uma linguagem banal para escrever de fatos extraordinários, o escritor fala de coisas banais de uma maneira fantástica." Braga também se expressou sobre o assunto.
"Digamos apenas a pequena palavra: adeus. A pequena palavra que se alonga como um canto de cigarra perdido numa tarde de domingo."
Vivian Masutti, 27 anos, é jornalista formada pela Cásper Líbero e bacharel em letras pela Universidade de São Paulo - vivian.masutti@grupofolha.com.br
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