14/07/2013

O contador de histórias

Vivian Masutti
do Agora

Confesso que não havia lido "O Caçador de Pipas", maior sucesso de Khaled Hosseini no Brasil, antes de virar a primeira página do recém-lançado "O Silêncio das Montanhas" (R$ 39,90, 352 págs., Globo Livros).

Depois de ler este último, resolvi ir atrás do primeiro, mesmo que a crítica internacional tenha apontado o lançamento como a melhor obra do escritor afegão.

É emocionante, porque trata de valores universais. E é esse o trunfo também de "Caçador de Pipas", que teve 2 milhões de exemplares vendidos só nas livrarias brasileiras.

Para falar bem a verdade, apesar da distância enorme existente entre a cultura brasileira e a afegã (que envolve os personagens do livro), essas foram as histórias que mais me marcaram nos últimos tempos. As tramas fazem pensar.

É comum ouvirmos falar que o Oriente tem valores distintos dos nossos. E tem mesmo. Mas alguns deles não mudam, e foi aí que Hosseini soube conquistar o mundo.

"O Silêncio das Montanhas" fala da vida de dois irmãos, Pari e Abdullah, moradores de uma aldeia longe da capital, Cabul, e órfãos de mãe.

Os dois têm uma ligação muito forte, já que foi Abollah, como a garota chama o irmão, quem, mesmo criança, criou Pari.

Logo no começo do livro, os dois são separados, fato que muda a vida de ambos e das pessoas envolvidas com eles.

A trama se expande e vai se tornando complexa quando, sem avisar, viaja no tempo para narrar acontecimentos na vida de personagens interligados ao enredo principal.

Reli diversas páginas até compreender que o silêncio é um instrumento constante do autor, que espera que a intuição do leitor dê conta de explicar o que não foi dito.

E nisso o livro foi uma grata surpresa, porque não é o que eu esperava de um best-seller.

O autor faz questão de acentuar a complexidade moral dos personagens, fugindo da ambiguidade frequente nos livros mais vendidos (que apelam para a simplicidade na tentativa de agradar ao maior número de pessoas possível).

Hosseini declarou que a obra entrelaça histórias de pessoas que ele conheceu, especialmente refugiados que voltaram ao Afeganistão.

A terra natal do escritor, que esteve em guerra nos últimos 60 anos, é também tema de "Caçador de Pipas" e de "Cidade do Sol", seu primeiro livro.

Livro faz 10 anos e ganha edição

Em comemoração dos dez anos de "O Caçador de Pipas", a Globo Livros lança uma edição especial da segunda obra de Khaled Hosseini.

A história da amizade entre dois garotos, um rico e outro pobre, é ambientada durante a recente transformação política do Afeganistão, que começa com a monarquia em1973 e termina com a implantação do regime militar pelo Taleban.

Autor afegão vive exilado nos Estados Unidos

Khaled Hosseini, 48 anos, retrata em sua obra um pouco de sua experiência como cidadão do mundo.

Filho de uma professora e de um diplomata, ele nasceu em Cabul, no Afeganistão, mas morou em muitas cidades durante a infância.

Quando a família finalmente resolveu retornar ao país, em 1980, o Afeganistão sofreu um golpe de Estado, e Hosseini foi obrigado a se exilar nos Estados Unidos, onde vive até hoje.

Vivian Masutti, 27 anos, é jornalista formada pela Cásper Líbero e bacharel em letras pela Universidade de São Paulo - vivian.masutti@grupofolha.com.br

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