Literatura do fim do mundo

Quem não é fã de literatura zumbi torcerá o nariz para a sugestão de hoje, o livro "Guerra Mundial Z" (Rocco, 368 págs., R$ 36), de Max Broox, que inspirou o filme de mesmo nome, em cartaz nos cinemas, com Brad Pitt.

Conta a meu favor a constatação de que a infestação da Terra por mortos-vivos é apenas uma metáfora (com ares de horror) para uma epidemia que poderia muito bem colocar a vida da população mundial em risco, como foi a peste negra na Idade Média, ou o vírus ebola, que aterrorizou o Zaire em 1996.

Posto isso, afirmo que, além de ver o filme, vale a pena ler o livro (de preferência antes), já que não se trata da mesma coisa --nem as duas obras têm o mesmo objetivo.

Enquanto o filme cumpre bem seu papel de entreter, com efeitos especiais incríveis e atuações convincentes, o livro parodia os guias de sobrevivência convencionais para descrever a paranoia coletiva que tomou conta do mundo, em especial dos Estados Unidos, na era Bush.

Narrado por um integrante da comissão da ONU (Organização das Nações Unidas) encarregado de elaborar o relatório sobre o assustador conflito que quase aniquilou o planeta, o livro mostra o desmoronamento da sociedade e sua tentativa de reestruturação.

O herói, então, viaja pelo mundo em busca do paciente zero para tentar elaborar uma vacina contra a doença. É aí que a inteligência do ser humano passa a ser também o seu maior inimigo, já que em episódios de estresse o egoísmo se sobressai.

Em meio à narrativa, o autor comenta o autoritarismo na China e na União Soviética, a falsificação de relatórios de inteligência por parte do governo dos Estados Unidos para justificar a invasão ao Iraque em 2003, a opressão imposta por regimes fundamentalistas e o tráfico internacional de órgãos.

São alguns dos temas que fazem uma horda de zumbis parecer filme.

Vivian Masutti, 27 anos, é jornalista formada pela Cásper Líbero e bacharel em letras pela Universidade de São Paulo - vivian.masutti@grupofolha.com.br

Leia mais

• Memórias do cárcere
• Rainha da criançada
• Simplicidade emocionante
• Não existem homens bons
• A vida de uma voz