Memórias do cárcere

"A Vida Após a Morte" (R$ 39,90,416 págs., Intrínseca), narrado em primeira pessoa por Damien Echols, 38 anos, conta a história real de um americano que ficou 18 anos no corredor da morte por um crime que não cometeu.

O livro é emocionante e, na minha opinião, tem três interpretações principais.

A primeira e que mais me agrada é a de uma história de salvação por meio da leitura.

Echols leu milhares de livros enquanto aguardava sua execução pela falsa acusação de ter matado três garotos em um suposto ritual satânico.

Eles não só mantiveram a sua mente ativa e saudável durante anos de encarceramento, como lhe deram as ferramentas necessárias para contar de maneira fluente e consciente sua história.

Outra leitura menos convencional é a análise que Echols faz de sua infância e da importância dela em sua vida adulta.

Condenado aos 19 anos, o jovem cresceu em uma família pobre e desestruturada. A mãe o deu à luz aos 15 anos, separou-se do pai do menino e se casou com outro homem, que registrou ele e a irmã, de quem abusava sexualmente.

Depois, casou-se novamente com seu pai, que, legalmente, não era mais seu pai. É triste notar como são poucas as boas lembranças do garoto solitário, maltratado pelo avô, incompreendido pela mãe e totalmente sem estrutura para estudar.

A última e mais previsível interpretação é a de um jovem com o qual o Estado americano falhou em tudo. Echols era tímido, sensível e inteligente. Mas na escola sofria "bullying" e repetiu diversas vezes de ano.

Em casa, vivia o inferno. Chegou a morar em um cortiço com teto de alumínio, que ultrapassava os 40ºC no verão e congelava os pés no inverno.

Quando pela primeira vez fez amigos e se identificou com bandas de rock, foi acusado de adorar o Diabo por vestir roupas pretas.

Depois de torturado pela polícia, foi condenado a viver entre excrementos e todo tipo de mente doentia que cresce dentro do sistema carcerário americano.

Na briga contra o Estado, Echols é a exceção de um indivíduo que venceu. Dentro da cadeira, virou monge.

Vivian Masutti, 27 anos, é jornalista formada pela Cásper Líbero e bacharel em letras pela Universidade de São Paulo - vivian.masutti@grupofolha.com.br

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